FALECEU FERNANDO NDOMBELE KIDIMA TADI, O ÚLTIMO MINISTRO DO PRIMEIRO GOVERNO ANGOLANO NO EXÍLIO

Por Bêncão Cavila Abílio

Segundo fontes familiares, acaba de render a alma ao criador, o Ancião Fernando Ndombele Kidima Tadi nasceu na Aldeia de Zunzu, na Comuna de Kibokolo município do Zombo e faleceu em Luanda no Hospital Multiperfil aos 94 anos de idade.

Papá Ndombele é um político que marcou o seu nome durante a luta de libertação de Angola. Foi companheiro inseparável de Emanuel Kunzika e ambos fizeram o seu percurso político e social começando nos anos 40 como discípulos e seguidores de Simão Gonçalves Toko na associação mutual Nkutu a Nsimbani, uma iniciativa do líder Mayamona Maziezi que agregou na RDC angolanos que faziam contribuições financeiras com a finalidade de ajudar projectos sociais na sua estação missionária Baptista de BMS Kibokolo no interior de Angola.

É a mesma associação que anos mais tarde se transforma numa mais ampla Assomuzo, ( Associação Mutual do Zombo) também de cariz social. Papá Ndombele será um dos mentores ao lado de Sanda Martins, Kunzika e o Reverendo André Ndomikolayi Massaki que transformaram a Assomuzo em ALIAZO( Aliança de Originários do Zombo). Esta associação que na sua maioria era composta por comerciantes e filhos de comerciantes radicados no Congo Kinshasa.

Eles conseguiram contribuições que permitiu mandar ao exterior duas delegações: uma para Nova Yorque ( Emmanuel Kunzika e Sanda Martins ) e outra para Londres( Ndomikolayi Massaki, David Livromentos).

Em Nova Iorque, discursou na ONU, Emanuel Kunzika, o Primeiro Angolano a reivindicar a independência de Angola ao mais alto nível internacional.

Em Londres, discursou no Chattam House, o Reverendo André Massaki, exigindo de Portugal a libertação incondicional do Padre Joaquim Pinto de Andrade e do Médico António Agostinho Neto.

Papá Ndombele assegurou a sobrevivência da Aliazo em Leopoldville. No regresso das duas delegações, a Aliazo transforma se em PDA ( Partido Democrático de Angola) e vai juntar se à UPA para constituir a FNLA.

Na Constituição do Governo Revolucionário de Angola no Exílio ( GRAE), Fernando Ndombele assume a pasta de MINISTRO dos ASSUNTOS SOCIAIS. Em 1963, Fernando Ndombele integra a delegação do GRAE chefiada por Jonas Savimbi que participou nos trabalhos da fundação da OUA.

Durante a convulsão na base militar da FNLA em Kinkuzu, Papá Ndombele integra a delegação de sábios que conversou com os militares para uma solução pacífica.

Depois de fuzilar alguns comandantes e dominar a rebelião, Holden concentrou a si a direcção dos destinos da FNLA, decide exonerar os dirigentes do PDA no GRAE e lhes acusa de conluio com os revoltosos, Papá Ndombele é substituído por Lubaki Ntemo. Os exonerados entram assim na lista negra de José Peterson e Da Costa, as pessoas temem pela sua segurança.

Papá Ndombele, um contabilista e expert financeiro que trabalhou numa firma portuguesa MADAIL e AMATO em Leopoldville foi afastado compulsivamente de todas as actividades políticas por Holden.

Em Janeiro 1975, nas actividades da instalação do Governo de Transição em Luanda, os militantes da FNLA em Luanda notam a ausência de Kunzika e Ndombele, os principais dirigentes do PDA na delegação. Apenas o Reverendo Massaki aceita fazer a viagem até Luanda e consta que nem no Palácio foi levado para assistir a cerimónia, permanecendo no seu quarto do Hotel Vice Rei na Sagrada Família.

Depois de proclamada a independência de Angola, a diplomacia angolana entra no jogo, o Embaixador Angolano em Brazzaville, Ndombele Mbala Bernardo (Vieux Dom) manifesta junto de Agostinho Neto , a situação difícil de vários dirigentes angolanos a residir em Kinshasa. Muitos alegaram estarem em situação de movimentos vigiados pelos homens do Da Costa( Sureté da FNLA).

Papá Ndombele é encorajado a viajar para Luanda onde encontra seu companheiro Emanuel Kunzika e Agostinho Neto que reivindicava a sua libertação os recebeu tendo lhe nomeado como Director da EGROSBAL.

Com o advento do multipartidarismo em Angola, Ndombele é um dos dirigentes da CNDA ( Convenção Nacional Democrática de Angola), a CNDA era dirigida por Paulino Pinto João, um ex dirigente do MPLA e integra uma frente comum tendo Jonas Savimbi como candidato às eleições presidenciais de 1992.

Emanuel Kunzika em vida reconheceu a oposição de Ndombele a essa aliança. Este último tinha relações difíceis com JMS desde o GRAE em Leopoldville. A citação de Ndombele que ficará para a história é uma frase que ele dirigiu para Kunzika.

A Unita inaugurou a sua sede junto do Cine São Paulo e durante o comício, JMS apresentou ao público os seus novos aliados, Papá Ndombele discorda com Kunzika, seu companheiro de longa data e lhe lança em Kikongo o seguinte:

” eh yeno lutinanga lufwa, lufwa i lwawu lwalu.” (Vocês que fogem a morte, a morte está aqui)

A seguir das eleições de 1992, iniciou uma guerra longa que ceifou a vida de muitos angolanos; provocou um grande número de mutilados, vagas de refugiados em direcção à países vizinhos, deslocados internos, destruição de infraestruturas do País.

DESCANSE EM PAZ PAPÁ FERNANDO NDOMBELE KIDIMA TADI.

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