Depois de ter inaugurado, em Dezembro de 2016, a própria galeria de arte, no mesmo espaço, materializando um sonho, o artista plástico de renome nacional e internacional mostra-se determinado a materializar mais um dos vários projectos em carteira, como forma de deixar um legado às novas gerações.
A pequena obra, erguida de raiz, está orçamentada em cem mil dólares e vai ser erguida segundo padrões modernos. O museu de arte, garantiu ao Jornal de Angola, inclui salas de esculturas e quadros, bazar e uma zona de conferência. O projecto, disse, visa dar maior dignidade e valorizar os trabalhos dos artistas, consagrados ou não no mercado nacional e internacional, que assim podem mostrar as novas tendências da arte contemporânea. “O projecto vai, também, dar resposta à necessidade de acomodação das obras”.
Projecto multi-funcional
Nos últimos três anos, o espaço tem promovido debates sobre as artes e feito um acompanhamento das actividades culturais desenvolvidas localmente, por iniciativas individuais e colectivas, que ajudam a dinamizar as artes no distrito do Zango. Desde a abertura do atelier, primeira fase do projecto, explicou, o espaço tem acolhido vários projectos artísticos e sociais, como o “Palavra Poética”, que promove diversas sessões de poesias, cantadas e declamadas, música alternativa, venda de livros e sessão de autógrafos, bem como exposições de artes plásticas, em diferentes modalidades.
Com a construção do museu, acrescentou, Luanda vai ganhar um espaço de referência, que vai ajudar a promover os trabalhos de muitos pintores no país. As dificuldades em conservar as obras estão com os dias contados, de acordo com o pintor. Mampuya disse ter já coleccionado mais de 50 obras, entre telas e esculturas, assentes em acontecimentos positivos e negativos da sua vivência e sobre a importância da valorização da matriz cultural africana.
“Quando queremos ter acesso a obras de pintores de referência, muitas vezes recorremos a coleccionadores individuais, o que se torna difícil”.
O pintor vê no projecto exemplo de determinação e superação de barreiras, como as que ultrapassou ao longo de mais de uma década para se afirmar na carreira artística.
A inspiração
O pintor Paulo Jazz está entre as principais referências e fonte de inspiração para Mampuya. Com trabalhos pouco conhecidos e divulgados, Paulo Jazz tem um conjunto de 147 obras, concebidas há mais de duas décadas, algumas já expostas e outras inéditas. “Ele é dos melhores para mim. Quero realizar uma grande exposição no espaço, depois de concluída as obras, como forma de o homenagear, pelo seu percurso artístico e pelo contributo que tem dado às artes plásticas”, anunciou.
Guilherme Mampuya tem trabalhado com vários jovens na descoberta de talentos, transmitindo-lhes novas técnicas de criação artística e corrigindo as debilidades. Em carteira, disse, tem previsões do lançamento do artista plástico Adilson, jovem formado no seu atelier, com uma exposição marcada para o mês de Junho.
“Arco-Íris”
Em Fevereiro deste ano, Guilherme Mampuya realizou a mais recente exposição de pintura e instalação denominada “Arco-Íris”, no Camões – Centro Cultural Português, em Luanda. A mostra procura reflectir algumas das metamorfoses que têm ocorrido, nos últimos anos, quer na vida pessoal, quer na artística, do autor.
O artista explicou que, ao longo dos anos, tem ultrapassado várias barreiras e alguma discriminação. Essa exposição, justificou na altura, representou a mistura de sentimentos, oportunidades perdidas e vencidas, tristezas e alegrias, caracterizadas nos quadros em tons de cores frias e quentes. A intenção foi produzir um trabalho que espelhasse, também, a necessidade de se incutir nos cidadãos africanos o espírito do afro-centrismo, na busca da constante autodeterminação no pensamento filosófico e cultural.
O pintor
Guilherme Mampuya Wola nasceu na província do Uíge, em 1974. Em 2000, concluiu a formação superior em Direito, pela Universidade de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC). Dois anos depois, ingressa no curso de Pintura Básica e mais tarde aperfeiçoa a técnica do retrato no atelier de pintura Honesto Nkunu, em Luanda.
Em 2005, o artista entrou para a União dos Artistas Plásticos (UNAP). Actualmente expõe, com frequência, individual e colectivamente. Ao longo da carreira realizou exposições para o Ensarte e a Trienal de Artes de Luanda. Além de diversas exposições individuais no país, já expôs na Galeria Bernardo Marques, em Lisboa, e em Bruxelas, na Galeria Lumieres d’Afrique.
Via JA
Deixe uma resposta