O pai foi funcionário da PetroCongo, mais tarde da Casa Inglesa Ollivant, para depois integrar a Casa Portuguesa Mampeza. A mãe era professora, considerada muito rigorosa no seio da família.
Depois de terminar o liceu, na escola missionária da Baptist Missionary Society (BMS), trabalhou no Ministério das Finanças na cidade de Stanleyville (hoje Kisangani) entre 1940 e 1949, altura em que regressa a Leopoldville a convite do seu tio Nekaka. Nesta cidade, passou a ser jogador do clube Motema Pembe e conheceu Cyrille Adoula (futuro político congolês).
Foi em Kisangani que Álvaro Holden Roberto se uniu a uma muçulmana de nome Fátima e desta união nasceu o seu primeiro filho de nome Jean-Pierre Roberto, em 1950. Este formou-se, com alta distinção, na Academia Militar de Foundouk Jedid, Tunísia. Faleceu em Paris, no mês de Janeiro de 2002, e Holden Roberto lamentou ter perdido aquele que os seus próximos olhavam como seu delfim político. «Jean-Pierre Roberto era um erudito, ‘open-mind’, virtuoso e era uma elite militar de facto», diz-nos o professor Mawete Makisosila, seu companheiro de luta. Ao regressar a Angola, Holden Roberto casa-se com Fernanda Teta Roberto e tiveram um filho, Masevani Roberto, o caçula.
Além de Jean-Pierre Roberto, o então fundador da UPA/FNLA chegou a ter mais filhos, nomeadamente: Catarina Roberto (psicóloga), Julieta Roberta, Carlito Roberto (jurista), Emmanuel Roberto, Holden Roberto Júnior e Milton Roberto.
Holden Roberto foi iniciado na vida política pelo seu tio Manuel Sidney Barros Nekaka. Entre 1949 e 1952, Barros Nekaka influenciou a Diáspora em Leopoldville, embora a adesão dos angolanos tenha sido tímida. Depois disso, ele vai a Matadi, onde se notou uma adesão qualitativa. No dia 10 de Outubro de 1954, foi fundada a União dos Povos do Norte de Angola (UPNA).
Holden Roberto aderiu e ofereceu a sua experiência na administração e, com influência de um agente da CIA, foi indicado como embaixador para publicitar a luta anticolonial nos países africanos, em nome da UPNA. Nessa altura, fervilhavam ideais independentistas no Congo Belga. Kwame Nkrumah tinha ganho as eleições legislativas em 1956, no Gana, e obrigou a independência do país, que se concretizou em 6 de Março de 1957. É assim que Holden Roberto participará na I Conferência dos Povos de África. Nkrumah sugeriu-lhe reformar a UPNA. Holden Roberto prestou-lhe atenção de maneira que, no dia 7 de Dezembro de 1958, o seu movimento passou a ser União dos Povos de Angola (UPA). Beneficiou de uma bolsa de estudo do Governo da Guiné Conacri.
Depois de se formar em Ciências Políticas, representou a UPA na arena diplomática internacional: ONU e não só. Foi nessa época que desempenha actividades políticas clandestinas sob os nomes de José Gilmore, Ruy Ventura e Osusana Milton.
Por razões de saúde de Barros Nekaka, surgem duas ideias. Uma defende que Holden Roberto deveria ser o sucessor do Rei Pedro VII. Acreditava-se que Nekaka – tido como sucessor – terá desistido e indicado o seu sobrinho. Por outro, as reformas que conduziram à UPA, a experiência na administração e a formação em Ciências Políticas privilegiavam «Ruy Ventura» a ser o novo líder da UPA, o que aconteceu em 1960, depois da morte do seu tio materno Barros Nekaka. Os actos de bravura do 4 de Fevereiro de 1961 têm as suas impressões, e a gesta do 15 de Março de 1961 contou com ele como líder que projectou a acção.
Em 27 de Março de 1962, Holden Roberto junta-se ao PDA, liderado por André Massaki e Emanuel Kunzika – para evitar conflitos entre os angolanos do Zaire e os do Uíge – beneficiando, assim, do apoio do Governo congolês, que culminou com a criação do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio). Embora inicialmente a iniciativa tenha sido aplaudida pela Organização de Unidade Africana (OUA), a diplomacia do MPLA fez perceber que o GRAE não era inclusivo. Apesar disso, a FNLA alargou a sua representatividade diplomática, tendo Jonas Savimbi como secretário-geral. Este irá desvincular-se e mais tarde criar o seu próprio partido político, em Março de 1966, a UNITA.
Em Janeiro de 1975, Holden Roberto negociou a independência de Angola em Alvor, Portugal, junto dos líderes do MPLA, Agostinho Neto, e da UNITA, Jonas Savimbi. Com desentendimentos desde Março de 1975, que resultaram em mortes e visto que ainda tinha o apoio da CIA, o que lhe permitiu comprar o jornal “Província de Angola” e a Televisão, Holden Roberto e a FNLA pontificaram-se para ser o Presidente do Governo de Angola no dia 11 de Novembro. Havia muitos seguidores e simpatizantes da FNLA em Luanda. Por falta de “follow-up”, Luanda foi ocupada, molo-molo, pelo MPLA. Entra aqui a figura do general Mawete João Baptista, que desempenhou, entre Maio e Junho de 1975, um papel operacional militar com resultados que favoreceram o MPLA: os militantes e militares da FNLA foram capturados nos bairros de Luanda e muitos deles fugiram da cidade. Será com o auxílio do Presidente zairense Joseph Mobutu que a FNLA tentará alcançar Luanda, tendo sido vencida na Batalha de Kifangondo, na véspera da proclamação da Independência de Angola.
Em 1976, Holden Roberto exila-se em França, mas mantém uma influência na República do Zaïre. Ao regressar a Angola em 1991, viu-se distanciado das negociações de Bicesse. Em 1992, ele liderou a FNLA nas eleições, mas encontrou o seu partido dividido e reduzido a quase nada, em termos de militantes e simpatizantes. Financeiramente, a FNLA tinha perdido a sua independência. Alguns militantes, devido às vicissitudes, criam outros partidos políticos urbanos e periféricos. Foi eleito como deputado no Parlamento de 1992.
Entre 2002 e 2005, a dinâmica política fez ecoar as vozes das novas lideranças na FNLA e as desavenças no processo de transição geracional mostraram a necessidade de reforma ideológica e estrutural. Holden Roberto foi condecorado com a Ordem de Independência pelo Presidente José Eduardo dos Santos, em 2005, pelo Despacho Presidencial n.º 19/05 de 10 de Novembro. No mesmo ano, já pensava reformar-se, organizar os arquivos para (talvez) publicar as suas memórias.
Faleceu em Luanda no dia 2 de Agosto de 2007 como deputado à Assembleia Nacional. O seu corpo está sepultado em Mbânza Kôngo, sua terra natal.
BIBLIOGRAFIA
BATSÎKAMA, Patrício (2022), Despoder em Angola, Lisboa: Viera da Silva
MARCUM, John, (1969), The Angolan revolution. The anatomy of explosion (1950-1962), Vol. I, Cambridge: Massachusetts Institute of Technology.
NGANGA, João Paulo, (2008), O Pai do nacionalismo angolano – as memórias de Holden Roberto, Vol. I, São Paulo: Parma.
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