ISABEL MAFUTA – Mamã da Damba sempre solidária

Por Rui Filipe Ramos

CAMINHOS DA VIDA: ISABEL MAFUTA – Mamã da Damba sempre solidária

Tia Bela é exemplo de mulher lutadora que nunca virou a cara às dificuldades e se afirma hoje como pessoa ainda não vitoriosa mas sempre em busca de melhor para si e para os necessitados.

Isabel Mafuta nasceu na Damba, província do Uíge, no Bairro da Saúde, hoje conhecido como Bairro do Kinteka. Filha de Mafuta Capitão, funcionário do Hospital de Santa isabel, Tia Bela, como é conhecida pelas gentes da Damba, sofreu o primeiro golpe da vida com a morte do pai, a mãe vê-se forçada a ir trabalhar como lavadeira no hospital para sustentar sozinha os dez filhos. Isabel Mafuta, sorriso sereno, cedo frequentou as irmãs da Misericórdia da Damba, até ir para Luanda, aos 17 anos, como aspirante na paróquia de Nossa Senhora de Fátima (São Domingos), de onde saiu em 1985, para ir viver no Bairro da Caop, em Viana, com a mãe e os irmãos.

Em 1986 Isabel Mafuta tem a sua primeira relação amorosa, de que resultou o seu primeiro filho. Mas o seu esposo faleceu e Isabel viu-se constrangida a travar duras batalhas para sobreviver. Daí até agora, os filhos foram surgindo até serem seis e Isabel Mafuta sente-se mãe e pai ao mesmo tempo, pois cuida dos seus rebentos sozinha.

Isabel Mafuta recebeu-nos no Centro de Formação de Construção Civil, na Vila Chinesa, em Viana, onde lecciona um curso de Culinária e Pastelaria. Até chegar aqui, Tia Isabel começou a trabalhar, por indicação de Corina Jardim, directora do Infop-Instituto Nacional de Formação Profissional , como activista cultural e de animação de deficientes no Centro de Reabilitação Profissional de Viana. Corriam os anos de 1990, as situações de deficiência eram extensas e graves, e chegou a ter sob sua responsabilidade mais de 200 pessoas.

Mas em breve reduziram a força de trabalho e Isabel Mafuta viu-se desempregada, com quatro filhos, foi lavadeira e empregada de limpeza até conhecer João António Júnior «J» que lhe proporcionou um curso de culinária e pastelaria no Hotel Alameda Escola. Terminado o curso, Isabel Mafuta foi de novo para a luta, sem olhar para o lado, até bater à porta do Hotel Fórum, em 2002, sendo admitida como ajudante de cozinha, lugar de que viria a desistir por não ter transporte de casa para o local de trabalho.

Em 2008 abre o Centro de Formação da Construção Civil na Vila Chinesa e eis Isabel Mafuta à porta com a sua credencial de formada em culinária e pastelaria, para ser admitida como colaboradora pela Direcção, que criou um curso aberto à comunidade. Isabel Mafuta meteu-se a caminho para fazer um curso de Pedagogia Formativa no Centro de Formação de Formadores e instala-se para formar pessoas da comunidade de Viana, do Cazenga, do Golfe 2, da Calemba 2 nas artes de culinária e pastelaria.

O curso tem a duração de quatro meses com uma propina de 4.500 kz mensais e oferece um diploma final aos 60 formandos saídos de cada ciclo. Tia Bela, vemos pelo aspecto pausado e reflectido, não é esbanjadora. Assim, as moedas que ganha com o seu esforço são contadas e sagradas para a educação dos filhos. Puxando os impossíveis para a área dos desafios, Isabel Mafuta mandou a filha Leonor Vissolela estudar em Portugal, para vir de lá com um curso. E Leonor veio mesmo com um curso depois de se formar em Setúbal como Educadora Social. Isabel Mafuta não sabe explicar onde foi buscar o dinheiro mas o grande objectivo foi cumprido e Leonor hoje é professora-bibliotecária no Colégio Caju em Talatona.

A Damba, terra de boas gentes, é a menina dos olhos de Isabel, que sofre, sofre muito com a pobreza extrema das pessoas, especialmente dos jovens. A Damba foi abandonada, sofreu muito na guerra e foi deixada á sua sorte, diz, muito triste, Isabel Mafuta.

Para ajudar um pouco a minorar as dificuldades, um grupo de filhos da Damba criou a Associação dos Amigos e Naturais da Damba (Kimvuka kya ana ye akundi a
Ndamba), e sempre que podem os seus membros ajudam especialmente as crianças com alimentos e roupa. Isabel Mafuta diz que são poucos os que ajudam e não hesita quando refere o exemplo de Tony Sofrimento.

Isabel Mafuta desloca-se frequentemente à Damba, não sem antes pedir a quem possa que lhe entregue alimentos ou roupas para levar, e ali na zona de Cacuaco, Tia Bela enche o carro com «pão mata enteado», aquele pão enorme que as mamãs vendem na rua, e vai distribuindo às crianças pela estrada.

No seu tempo de criança, recorda, a Missão Católica feminina da Damba formava raparigas em culinária, costura e noutras artes, mas hoje esse centro feminino está abandonado, as meninas que são recolhidas nada fazem a não ser filhos.

As quatro irmãs da Misericórdia fazem o que podem, e quase nada podem, diz Isabel Mafuta, elas não têm nada para dar aos necessitados. As lágrimas invadem o rosto de Isabel Mafuta quando pensa nas crianças da Damba. Precisam de batas, de cadernos, de lápis, de livros, de comer, não têm nada, por isso pedimos ajuda,
balbucia, para depois falar do projecto, que ainda é só projecto, de reabilitação da Casa de Formação da Missão da Damba das irmãs da Misericórdia, para que as meninas voltem a ter a possibilidade de estudar e de se formar para serem quadros na Angola do futuro.

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