Kiassekoka, um homem de convicções e sentido patriótico!

Por Domingos das Neves

O testamento político e cultural do Dr. Miguel Kiassekoka, um homem de convicções e sentido patriótico!

* Maquela do Zombo, Julho 1954
+ Lisboa, 17 Maio 2020

“OITAVO ANIVERSARIO DE TRATAMENTO EM PORTUGAL: Curiosa maneira de comemorar um aniversario.

Na manha como hoje, há oito anos (04 de Abril de 2012), cheguei em Portugal-Lisboa para a reparação do meu acesso vascular, em transito para Genebra, onde deveria presidir o meu grupo sobre os cuidados primários de saúde. O destino quis que a operação cirúrgica se complicaste.

O braço direito ficou inflamado e tive que lutar para salvar o braço ate o mês de julho de 2012. Foi uma das grandes batalhas da minha vida e graça a um Amigo Médico Dr. Filipe Vaz de Azevedo, recuperou o braço direito e restabelecer a prótese no braço esquerdo.

Tive que criar as condições para permanecer mais tempo que planificado. Arrendei um apartamento bem perto do Centro de Hemodialise da Nephrocare Fresenius Lumiar, onde vivi ate inicio de 2018, tendo mudado para a Venda Nova-Amadora junto das Portas de Benfica.

No meu plano, este ano deveria já ter a minha aposentação e ir viver na aldeia Kikieleka, onde as mínimas condições já estavam criadas, faltava colocar a energia solar para a iluminação. Tenho saudades dos banhos nas aguas frescas do rio Kimbungu, um reencontro com as almas dos meus ancestrais, que banharam também no mesmo rio.

O cemitério dos nobres de Kikieleka também estava preparada, desde de 2008, pintado em branco, perante o susto dos parentes que acham que a morte não deve ser preparada. O destino quis que venha a viver em Portugal, coisa que nunca me passou, mesmo nos piores pesadelos que tive. Portugal era a terra do colono e era uma “rendição” sem condições.

A realidade é dura e contra factos não há argumentos, já em via de retomar a minha nacionalidade portuguesa. Um dia, em Kinshasa, na caça de uma bolsa de estudo, preenchi o formulário para uma bolsa de estudo. Nacionalidade: Angolaise. Pays: Angola. O francês que recebo o impresso me disse: Monsieur l´Angola n’existe pas, il faut mettre Portugal. Lhe mostrei o meu cartão modelo B (Tipo titulo de residência) e meu cartão do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exilio, que era o meu BI) para fazer valer a minha nacionalidade.

Recusei de mudar e tentei convencer o senhor, mas que já estava mais que convencido e apresentou até elemento jurídico. Angola é um território e uma província de Portugal e não há como o senhor vem aqui dizer o seu pais é Angola. Ajudou a preencher outro formulário onde colocou como pais Portugal, província Angola: desisti perante a teimosia do senhor, e claro a minha também e tive que dizer adeus a uma possível formação em França.

Nesta caça as bolsas, consegui uma da Roménia, com o meu inseparável amigo Engº Eduardo Luyindula. Azar não é só óbito. Tudo pronto para viajarmos para Roménia, Holden Roberto, viaja para Roménia, onde Nicolau Ceausescu, oferece 15 bolsas de estudos. Dilema da embaixada da Roménia em Kinshasa. Como fica a situação dos dois angolanos que já receberam a bolsa? Nada para eles ditou a FNLA, os 15, nos é que vamos selecionar, estes dois atrevidos não conhecemos.

Desisti mas o Luyindula teimosamente foi falar com Holden Roberto, que lhe autorizou a ser o decimo-sexto bolseiros dos que foram para Roménia. E o outro, aquele do MPLA? desistiu. O simpático embaixador me chamou e me recomendou de ir ver o velho H (alcunha do Holden junto dos estudantes) e bastava ele autorizar porque a bolsa estava aprovada para mim. Desisti e fiquei a fazer os estudos de Medicina em Kinshasa, na idade de ouro do Mobutu, que ganhou um desafio: O Zaire ser um exportador de médicos.

Resumindo que nunca Portugal estava nos meus planos mas a vida é como um rio, só nos carregar onde o destino definir. O meu tio Comandante Nguma, herói do 15 de Março de 1961, vai ficar surpreso, que a sua luta produziu mais um cidadão tuga de origem, por ter nascido sob a juridicção portuguesa, embora não qualificado na altura para um BI (indígena).

Coisa da vida e volto a cantar os Heróis do mar, hino que nos enchiam de orgulho ao ver os jogos de Portugal onde o Eusébio, um de nos, era o Rei. Os meus agradecimentos a todos que me ajudam a manter a chama da vida ainda viva. São tantos que não me arrisco a citar ninguém.

Desculpa também a todos que não me entendem e respeito as suas opiniões, mas continua a minha caminhada. Coisas de vida neste fim de semana da Paz e de quarentena. Um grande abraço. Kiassekoka”

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