KIMPA VITA nunca foi uma profetiza cristócentrica

Por João Niango Ngombo Kina

Passamos a metade de nossas vidas secularmente nas vestes de uma tremenda ignorância histórica, Política, Religiosa, Cultural, Social “e etc”. Fomos obrigados a acreditar nas histórias maquilhadas e minadas de orgulho alheio (dos ex-colonizadores), sobretudo no que tange a real historiografia de figuras que marcaram a história Áfrikana.

O Áfrikano moderno aprendeu academicamente, ou seja, nos manuais escolares que os seus ancestrais eram inúteis, atrasados e sem quaisquer civilização própria. Esse tipo de pensamento se transformou em um câncer cerebral, na cabeça do Áfrikano. O problema é que até agora, nem sequer o tratamento para alcançar a cura não está a ser feita como se devia, porque muitos dos Áfrikanos mesmo sendo diagnosticados com a doença “o câncer” preferem acreditar, como estão convencidos de que não há cura para tal doença, mesmo sabendo que a cura depende primeiramente de si, da sua força de vontade, antes dos verdadeiros médicos intervirem no caso.

O Áfrikano não quer se libertar das correntes da mental escravidão, ou seja, não quer quebrar a corrente que faz dele a histórica ovelha cega, trilhando assim, um caminho cada vez mais afetivo para com a Ignorância, no que concerne a historiografia ancestral Áfrikana.

Muitos preferem acreditar cegamente nas histórias narradas “pintadas” e minadas pelos ex-colonizadores, que propriamente dos historiadores, Pesquisadores, anciãos, chefes tradicionais, Escritores “e etc” de ordem Áfrikana.

Esse tipo de mentalidade Escravocrata tem afetado de que maneira, o desenvolvimento intelectual do Áfrikano entermos histórico.

São várias das histórias que durante anos acreditavamos até então serem, intocáveis, sagradas e verdadeiras. E uma delas no meio de centenas das histórias dos nossos antepassados, é a da Profetiza Kimpa Vita.

Kimpa Vita é conhecida como Dona Beatriz e Profetiza, que deixou para trás uma crença secular tradicional Kôngo, para se converter ao Cristianismo. Infelizmente tenho de dizer publicamente que a História de Kimpa Vita é narrada de forma maquilhada, para defender interesses da dita boa imagem criada pelo Vaticano.

Realisticamente falando, Kimpa Vita nunca tinha sido Cristã. Ela foi e morreu como N’ganga N’kissi. Só para terem noção do quão ela era uma N’ganga N’kissi, é só lembrarem de como ela morreu, e quem são na verdade os verdadeiros covardes ou protagonistas da morte dessa figura ou Mártir da sociedade Kôngo(Angola, RDCongo e Congo) Áfrikana do modo geral.
Resumidamente falando, a morte da Kimpa Vita esteve ligada a questões de ordem religiosa. Só para terem uma ideia ; Ela foi acusada de Bruxa “ou feiticeira” e condenada a morte.

De Recordar que, Kimpa Vita Foi morta em plena praça pública pelos Missionários Católicos, conhecidos por Capuchinhos Vermelho! A jovem Kimpa Vita na altura, era uma dentre várias “mulheres” que tinha a sua crença ligada à Espiritualidade Kôngo. Nada haver com questões de ordem religiosa. Lembrar que : “Assim como em outras sociedades, em Áfrika a definição sobre a espiritualidade não é meramente diferente. A Espiritualidade é definida como uma “propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos crenças que transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior que si próprio. A espiritualidade Kôngo a princípio nunca esteve ligada a vivência religiosa “até chegar o fundamentalismo religioso Abráamico” que mudou o curso da história, ou melhor, do conceito. A espiritualidade Kôngo sempre esteve ligada a natureza, vivência e a Cultura do povo etc.

Kimpa Vita era uma mulher com poderes de curas milagrosas, e fiel à sua espiritualidade Kôngo(assim diz a Oralidade de povos que preservam a boa imagem de Kimpa Vita).

O que Kimpa Vita fazia preocupava muito as autoridades missionárias e coloniais. Ela sonhava com autonomia tradicional e a liberdade do Povo Kôngo ou Ndombe( como preferirem) . Um sonho que lhe custou a vida. Tanto que, foi traída e humilhada pelos missionários e os seus comparsas.

Para eles, Kimpa Vita era tida como um tumor, ou melhor, obstáculo. Tanto que lhe sugeriram a se converter ao Cristianismo, que por sinal, negada por ela. Sendo assim uma tentativa falhada e frustrada pelas entidades missionárias, ela tornou-se automaticamente inimiga das entidades coloniais e dos missionários.

Kimpa Vita contínuo a fazer o que melhor sabia, ajudar e a curar doentes, por via física e espiritual.

A fama de Kimpa Vita se tornou um movimento de massa e começou a tomar conotações abrangentes em outros Reinos, perturbando assim a missão das autoridades coloniais e missionária. Tanto que em Reinos limítrofes ela era querida pela fama que adquiriu em enfrentar as autoridades coloniais e missionária.

As pessoas acreditavam muito na Kimpa Vita. As autoridades começaram a perder o controle da situação, e os missionários tomaram a drástica decisão de usar os nativos para o acusar de desacato as autoridades e de prática de feitiçaria. Ela foi presa e condenada a morte, junto com o seu bebé e com um dos seus seguidores, para quem se diz ser o pai da criança. Foram todos barbaramente mortos (resumo, inquisição) em plena praça pública pelos missionários Capuchinhos Vermelho “da igreja católica” .

Na época quem se convertia ao Cristianismo tinha largamente a possibilidade de ter uma vida um pouco melhor com relação aos nativos tradicionais, que tinham a Espiritualidade e a tradição nativa como sustentáculo. E Kimpa Vita, era contrária a quem se opunha contra as crenças e tradições que régia o povo Kôngo.

Portanto, ninguém morria publicamente por um caso de bruxaria, aliás, só era considerado(a) feitiçaria ou feiticeiro, quem defendia uma posição contrária a do Cristianismo. Ela morreu sendo acusada de Bruxa, e não como Profetiza convertida ao Cristianismo.

Os missionários inverteram a moeda, tornaram-lhe cristã, baptizaram-lhe com o nome de Dona Beatriz e Profetiza para minimizar ou evitar uma eventual revolta dos Reinos limítrofes que ela tinha conquistado, e sobretudo, para promover o cristianismo no seio do povo que não conheciam a real história de Kimpa Vita, e não só. Ao que tudo indica, a tática dos missionários resultou. Tanto que nos dias atuais ela é conhecida e aceite de tal forma.

Quando em vida, Kimpa Vita havia deixado alguns ensinamentos ou palavras, que após a sua morte, transformaram-se em palavras profeticas, ou seja, profecia, que algumas figuras como Simon Kimbangu, Simão Toko, Tata honda, Patrice Lumumba e sobretudo alguns líderes tradicionais etc, dizem se inspirar. Na qual ela dizia a dois séculos anteriores : Um dia surgirá no seio do povo N’dombe “Preto” um Salvador que vai fazer frente aos invasores colonialistas, e por via desse Salvador surgirá outros que vão libertar o povo Ndombe da opressão colonial. Quando isso acontecer, seremos um povo livre. Porque a nossa casa, as nossas terras e as nossas lavras, não podem ser negociadas, mas sim reconquistadas, porque as casas , lavras e terras, a nós pertence. Nós não mandamos na casa dos Mindeles”brancos”, porquê que eles devem mandar na nossa?.

Foi graças a essa frase inspiradora (a nossa terra, a nossa casa, não deve ser negociada. Célebre pensamento que se transformou em ; a nossa liberdade não deve ser negociada ) que Lumumba utilizou para defender com unhas e dentes os interesses do continente berço.

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