Por Sebastião Kupessa
Hoje, o autor-compositor, cantor, guitarrista, editor e produtor da música africana de origem congolesa, Luambo Makiadi “Franco”, completa os 28 anos desde que o seu coração cessou de bater, deixando o mundo dos vivos, para entrar no reino da eternidade.
Foi no dia 12 de outubro de 1989, que o Franco faleceu em Namur, no Reino da Bélgica. Toda África lamentou a morte daquele que era considerado como um dos maiores artistas que o negro continente conheceu. No dia do seu funeral, uma semana depois da sua morte, Kinshasa, a capital da RDC (Zaire naquele tempo), ficou paralizada, para chorar o malogrado. Na ocasião, o falecido Cardeal Malula, qualificou o Franco, um profeta enviado por Deus, para moralizar a sua sociedade.
Os paises limítrofes, sobretudo que pertencem o antigo espaço do antigo Reino do Kongo, enviaram importantes delegações para honrar a memória do ilustre filho de África. Angola estava presente, com uma comitiva chefiada por Cananito Alexandre, que a imprensa congolesa apresentou como sendo o ministro da cultura e Mário Matadidi, artista musical angolano que evoluiu por muito tempo no Congo.
O nascimento do Luambo Makiadi “Franco”.
Sonabata (Nsona Mbata, em kikongo), há uma centena de Km da fronteira norte angolana, foi uma importante localidade do antigo Reino do Kongo, situada na sua província do Mbata, onde localizava-se um importante mercado transitório para região do Mpumbu, com o seu mercado em Malebo, hoje Kinshasa. Sonabata foi lugar de trocas comerciais entre diversos povos e subgupos kongo como os azombo, andembo, asolongo, ampombo, ansoso, asikongo e ayombe, mas também, uma localidade de cruzamento de diversas culturas kongo. De dia, as trocas comerciais; a noite de luar, batuques, cantos e danças em torno de fogueiras. Esta situação prevaleceu até no início do século 20. Depois da partilha do reino pelas potências europeias, Sonabata será belga e vai conservar os habitos herdado do antigo Reino.
Luambo Makiadi nasce neste Sonabata comercial, tumultuoso e rítmico, no dia 6 de Julho de 1938. O seu pai, Luambo, trabalhador do Caminho de ferro Leopoldville-Matadi, originário do da região do norte de Kassai, a beira do rio Sankuru, da etnia Mongo-Tetela e a mãe, Hélène Mbonga Makiesse, é da região de Lukaya.
Franco vai crescer neste ambiente Kongo, onde a cultura oral é muito importante, recordando ao rapaz o passado glorioso do seu reino. Todo o Kongo-Central Belga, hoje Baixo Congo (antes Baixo Zaire) era uma discoteca a céu aberto. A sua mãe, segue o marido em Leopldville, onde fixam a residência levando consigo os filhos que tinha. Para sustentâ-los, a mãe vendia os bolinhos (mikates) com ajuda do filho primogênito, que abandona os estudos na terceira classe, por falta de meios financeiros. Franco, órfão do pai, com 10 anos de idade, vai evoluir na rua onde, vai partilhar a vida com outros jovens da sua idade.
Luambo vai conhecer a vida de Leopoldville longe da sua Sonabata com a solidariedade clánica, vai viver as duras realidades desta megápole africana, com as suas contradições, tormentos, ambiguidades e violências.
Os primeiros passos como músico.
É como criança da rua que o Franco vai descobrir o som de uma harmónica, que vai tocando com a idade de 11 anos, com os seus camaradas insubmissos, ao mesmo tempo ajudando a sua mãe, que criava sozinha os quatro irmãos. O som harmonioso produzido pela a sua harmónica, chama atenção do famoso guitarrista Ebengo Dewayon, que vai o adoptar artísticamente, e será ele que vai o ensinar tocar viola, antes de aperfeiçoar-se com outro guitarrista de nome Lwampasi.
A 15 anos de idade, sem conhecimentos de base da cultura musical, obstinado, a sua audácia será recompensada. Com efeito, vai acompanhar o seu precursor, Dewayon com seu grupo, Waton, no estúdio de gravação. Adolescente, eis lançado na carreira musical.
Em Leopoldville dos anos 50, a música cubana era particularmente apreciada pelos europeus residentes. Com a chegada de aparelhos receptores da rádio e os primeiros fonógrafos, os africanos descobrem a maravilha desta tecnologia, ao mesmo tempo como rítmo que se tocava na altura. O som moderno produzido pelos aparelhos vai inspirar muitos artistas a emitar este rítmo, ao ponto que alguns esqueceram os rítmos tradicionais. Kabasele Tshamala “Grand Kallé” vai formar o primeiro conjunto musical moderno que vai designar African Jazz, em 1952. Grand Kallé vai produzir músicas com rítmo cubano, muitos outros cantores vão seguir os seus traços, como Luambo Makiadi que vai formar o seu OK Jazz, em junho de 1956.
Com o auxílio de Bowané, o OK Jazz, entra no estúdio, grava a sua sua primeira canção com o título “Bolingo na ngai Béatrice”. Meses depois, Bowané decide viver em Luanda, Angola, abandonando o Franco, que encontra-se de novo sem apoio artístico. Ao invêz de abandonar, recruta outros músicos congoleses de Brazzaville, Jean Serge Essous, Landu Rossignol, Céléstin Nkouka, Edo Nganga e Vicky Longomba. Dois anos mais tarde, já com fama conquistada, graças ao imenso trabalho realizado, o seu Ok Jazz encontra-se reforçado com os artistas, Mulumba Joseph “Mujos”, Bombolo Léon conhecido por Bohlen, Tchamala Piccolo e Lutumba Ndomanueno aliás Simaro Masiya. Mais tarde, Kwamy, Kiamanguana Mateta “Verckys “, Youlou Mabiala e Michel Boyibanda vão juntar-se a equipa dirigida pelo Franco.
Luambo Makiadi, patrão da rumba popular congolesa.
Nos fins dos anos 60, Luambo Makiadi começa introduzir o folclore na Rumba congolesa, dando mais espaço ao verbo, para educar as massas, tal como era utilizada as canções no seu antigo reino destruído e partilhado. Os rítmos Kongo conhecidos, como kimbongila, kitweni do Mayombe, Konono dos Azombo, ou antigo masikilu, o verbo serve para educar, moralizar ou chamar atenção sobre muitos casos sociais. Luambo vai utilizar as canções para moralizar as massas. As suas composições falam da realidade da vida. Com a sua vôz grave, Franco ensina como se deve viver na sociedade bantu, antes que a sua viola, com o som característico, emitando o sanzi tradicional, convida os melómanos a ondular as suas ancas nas pistas dos bares do ex-Congo belga. As canções folclóricas fazem o seu aperecimento, como “Sanzi Kiliyé, Maza matiya”, “Luvumbu Ndoki”, “Kuna kisantu ki kwenda ko”, (a escutar no fim do artigo presente) etc.
Foi neste preciso momento que os críticos dividem a rumba congolesa em duas escolas: Fiesta e Popular (odemba). O rítmo Fiesta incarnado na pessoa do cantor Pascal Tabu “Rochereau”, depois de ter sido fundado por Kabasele Tshamala “Grand Kallé” e desenvolvido por Kasanda wa Mikalay “Dr. Nico”.
No início dos anos 70, não restava mais dúvida, a escola “odemba”, era cópia da cultura Kongo. Luambo vai fazer apelo aos vocalistas, instrumentalistas e percussionistas que dominavam a língua kikongo. Vai recrutar os vocalistas Samuel Mayimona Mangwana, Kyambukuta Londa, Blaise Pascal Wuta Mayi, Ndombe Opetum, Ntesa Nzitani, Kiawakana Aimé, Lukoki Diatho, mais tarde, Bialu Madilu, Lassa Ndombasi “Carlito”e os intrumentenlistas como Mavatiku Visi, Jerry Dialungana, Makoso, Decca Mpudi, Matalanza, Baramy, Pajos, etc. O Ok Jazz do Franco foi uma grande empresa da cultura tradicional Kongo.
Luambo Makiadi e a língua kikongo
Jamais um artista da expressão Kongo compôs canções signicativas como o Franco. Por muito tempo, ele incarnou a sabedoria kongo incluída na Rumba congolesa. As canções como “Kinzonzi kya Tata Mbemba” e “Kinsiona” quando chora o seu irmão menor, outro artista famoso, Bavon Marie Marie, vítima de acidente de viação em 1972, onde sauda a sabedoria contida no Kinzonzi, essa arte de diálogo para encontrar soluções e exortando “kinzonzi kya sisa e ba mbuta, kala ye ngangu, o lu vova mawu, lwa syama lwa kola”. No “Mambu ma miondo”, em 1974, onde exalta a luta de libertação dos povos de Angola, Namíbia, Moçambique, Guiné Bissau, Zimbabwe, etc. Na sua obra-prima, “oh Miguel”, um maxi-single com a compilação de 5 canções, contém uma obra em kikongo intitulada”lwa funguna e masumu”, composta no estilo reggae.
Nos meados anos 80, Luambo larga no mercado “Kimpa kisangamene kuna zulu”, uma mensagem enviada ao chefe de sua aldeia natal que recusou a construção de uma estalagem a beira da estrada. O chefe de aldeia evocou a lei Kongo que estipula que os filhos devem construir casas nas aldaeias dos seus pais e não das suas mães, pois o pai do Franco, como já o referimos, não era natural da região. O seu projecto será abandonado!
Um ano antes de falecer, Luambo deixou-nos a canção Lukoki, onde aconselha “kwenda ku twala, kutadi manima ko”, o que significa quando avanças na vida, vai sempre a frente e não lhas atráz.
Luambo Makiadi foi um dos importantes cérebros que a civilizaçâo bantu produziu, faleceu com 51 anos de idade
( Para escutar as músicas, clicas na seta e depois na verde. Boa escuta)
Kuna Kisantu ki kwenda ko – Franco e Ok Jazz, em 1969
Kimpa kisangamene kun zulu – Franco e Ok Jazz, em 1983
Luvumbu ndoki – Franco e Ok Jazz, em 1968
Lukoki – Franco e Ok Jazz, em 1988
Oh Miguel – Franco e Ok Jazz
Pela primeira vez pude ter acesso à muita informação detalhada do Grand Maitre Franco. É gratificante saber que Franco sempre enalteceu o seu Kongo cujas evidencias são os vários trabalhos gravados na língua Kikongo.
Eu nasci em 1960. Cresci ouvindo a música do Franco tanto mais que influenciou-me a tocar guitarra. Viva o Grand Maitre Francisco Luambo Makiadi.
Eu sou um jovem de 26 anos mas amo ouvir as músicas antigas dos mais velhos, w por ser fã destas músicas então a sempre a curiosidade de conhecer as histórias destes grandes artistas africanos, e aqui neste site tem a informação completa… Grato