Por Prof. Makisosila Mawete (*)
ANGOLA TEM MUITOS HERÓIS DESCONHECIDOS
Muitos dos nossos concidadãos que gozam da independência de Angola, ignoram como a victória dos nacionalistas sobre os portugueses foi construída. Eles não sabem quem foi o fulano e o qual é o grau da sua contribuição. Pouco importam que sejam membros da FNLA, do MPLA ou da UNITA. Vou dar aqui um exempro como o caso do Professor LUCAS NGONDA e o papel que jogou no renascimento da FNLA, que angolanos deveriam conhecer imperativamente.
Como Lúcas Ngonda não é conhecido nem reconhecido como herói nacional, entre tantos outros, que arriscaram a vida, menos que ele?
A história é, ao mesmo tempo, arte e ciência, que narra livremente, de tudo que aconteceu efectivamente, em circuntâncias precisas. Ela concerne a identificação de factos, de causas, de actores, de desenrolamento e dos ensinamentos que os contemporâneos podem beneficiar. Nenhum sujeito é tabú para um historiador.
Eu queria escrever, em breve, de muitos títulos do Prof. Lucas Ngonda, pessoa que não vejo mais há 15 anos, mais que guardo recordações indeléveis, por causa da sua clarividência, do seu comprimisso, da sua disponibilidade para todas as causas de Angola.
Eu trabalhei pessoalmente com ele junto do Presidente Holden Roberto, com o Dr. José Lunungu e o Dr. Makuzayi Masaki (1950 – 2004), antigos representantes da FNLA na França e na União Europeia, respectivamente. Trabalhei com eles, durante longo tempo como responsável para informação, de comunicação e redactor em chefe do jornal “Liberdade e Terra”, da FNLA.
Sou também professor e pesquisador em Ciências-Sociais, e director do Laboratório de Antropologia do Renascimento Africano (LARA). É com esses diferentes títulos que eu queria eliminar certos equívocos sobre a personalidade do prof. Lucas Ngonda e papel que jogou no renascimento da FNLA, e na independência de Angola.
Eu não o conhecia simplesmente, por causa da sua qualidade de herói nacional, por ser antigo membro da FNLA histórica, mais no papel que ele jogou, na activação do processo da independência de Angola. Fundamento-me, ùnicamente, sobre os seus actos. Falo aqui dos feitos de um homem de acção, de convicção, mas também de um intelectual, que domina perfeitamente a história do nosso país. As suas proezas, com armas nas mãos, são conhecidas por verdadeiros revolucionários angolanos. Mas parece que, poucos angolanos reconhecidos como heróis, desempenharam o mesmo papel que ele, no terreno, quer dizer, no interior de Angola.
LUCAS NGONDA foi o principal intermediário do Cessar-Fogo entre a FNLA e o Governo português para independência de Angola
Militante da primeira hora e membro influênte da juventude da FNLA , o prof. Lucas Ngonda viveu o colonialismo português em Luanda. Abandonou Angola em 1976, depois da derrota da FNLA, decidindo viver no exílio, aproveitando formar-se em Ciências Sociais, numa universidade ocidental. Ele o fêz na Universidade Paris 8, animando ao mesmo tempo a FNLA na França, preparando a sua reinstalação em Angola.
O que é importante reter dele, foi ele quem conduziu, pela primeira vêz, a delegação portuguesa na ex-sede do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio) em Gombe, Kinshasa, logo após de 25 de Abril de 1974. Foi o Prof. Ngonda que desencadeou a primeira acção revolucionária da FNLA em Luanda, que perturbou os portugueses, que naquele preciso momento, compreenderam que a luta dos nacionalistas angolanos, atingiu a capital angolana. As acções revolucionárias do Prof. Lucas Ngonda eram bem conhecidas pela administração portuguesa em Angola.
Sem o Lucas Ngonda, as negociações para o cessar-fogo que levaram à assinatura dos acordos de Alvor, não podiam acontecer naquele preciso momento. Recordo-me que a “La voix du Zaire”, a então televisão pública do ex-Zaire, tinha mostrado imagens do Prof. Lucas Ngonda, depois de uma audiência que teve com Mobutu, o antigo chefe de estado do Zaire. O presidente Holden Roberto, durante longo tempo, não cessava elogiar Lucas Ngonda no meio dos seus fiéis, como um combatente corajoso!
Lúcas Ngonda artisão principal do renascimento da FNLA e do regresso do Holden em Angola
Filho de Agostinho Kadiazoko e de Maria Munkunga, ambos membros de ALIAZO (Aliança de Refugiados do Zombo), fundada por André Masaki, antes da criação do PDA, militantes revolucionários da primeira hora. Não foi fácil, no que me concerne, e no que concerne todos descendentes de nacionalistas angolanos de aceitar o apelo para se juntar a Lucas Ngonda com a finalidade reiniciar as actividades da FNLA. O primeiro encontro aconteceu na Universidade de Paris 8. Depois, salvo excepcionalmente, todas as reuniões da FNLA, desenrolavam-se na minha residência, em St Dénis, na periferia de Paris. O presidente Holden Roberto participava regularmente nas reuniões, e deixava-nos a liberdade levar acções em nome da FNLA, na França, na Europa e no mundo.
O Prof. Lucas Ngonda ama religiosamente a FNLA, e consagrava a sua energia e os seus magros recursos na reorganização deste partido histórico angolano. Ao contrário de muitos seus antigos compatriotas próximos, na luta pela libertação de Angola, Lucas Ngonda nunca traiu Holden Roberto e muito menos a FNLA. Era bastante apreciado pelo Holden Roberto!
Houve conflitos na ordem de lógicas, de como gerir o partido, a recuperação do pretígio do seu passado na história de Angola e o seu papel no destino de Angola.
Se houve crise no interior da FNLA, entre os dois homens, Holden Roberto e Lucas Ngonda, foi por causa das quatro (4) seguintes questões:
1 – Lucas Ngonda obrigava o Presedente Holden Roberto a regressar para Angola, porque sem a sua presença, a FNLA estava condenada a desaparecer.
2 – Lucas Ngonda sugeria frenquentemente ao Presidente Holden Roberto, uma vêz instalado em Angola, de reorganizar a FNLA, atravêz de seminários de capacitação de quadros, das campanhas de educação política em todo território angolano, de realização regular de congressos desde que houvesse condições, no respeito rigoroso dos estatutos do partido.
3 – A situação dos antigos combantentes, preocupava muito o presidente Holden ao ponto de o entristecer constantemente. A identificação e valorização desses combantentes era um dos pontos que animava a discórdia entre os dois homens.
4 – O Prof. Lucas Ngonda criticava abertamente o presidente Holden, quando nomeava pessoas que nunca militaram na FNLA, a cargos importantes em Angola.
Os insultos e mentiras contra Lucas Ngonda
Todos que insultam LUCAS NGONDA como traidor, são eles mesmo traidores, porque nunca foram militantes activos da FNLA e na maioria parte de casos, são originários de Mbanza Kongo (não confundir com a província do Zaire), os famosos BA SANSALA, designação atribuida aos criolos naturais da antiga cidade de São Salvador.
Temos que dizer a verdade, nós sofremos no passado, essa discriminação, consistindo a desconsiderar combatentes oruindos de outras províncias de Angola, incluíndo os próprios bakongo, até mesmo naturais da província do Zaíre, os que nunca foram originários de Mbanza Kongo.
É natural que a reforma no interior da FNLA encontrou e encontra ainda adversários entre os “ba Sansala” que nunca fizeram diferença entre a UPA e a FNLA. No entanto, recordámos que, a FNLA é junção da UPA e do PDA. Pois, entre os traidores nítidos da FNLA e do velho Holden, encontram-se, em maior número, os próprios homens originários da mesma localidade que ele. Estando em Paris, no exílio, ninguêm visitou Holden Roberto, que sofria da total solitude e do isolamento, sou testemunha ocular. Naquele tempo, ele contava com o prof. Lucas Ngonda, Dr. Lunungu, Comandante Barroso, Dr. Makuzayi Masaki e eu. O Dr. Makuzayi Masaki, foi filho do Sr. André Masaki, que já referi antes, um dos responsáveis do extinto PDA.
Os originários do ex-São Salvador foram formar o COMIRA, antes de integrar-se no MPLA, com as tropas do ELNA, sem conhecimento do Holden que os formou, beneficiando regalias sociais em Luanda. O Lucas Ngonda estava ao lado de velho Yembe, sofreu muito para consolar o nosso lider abandonado. Andava de um lado ao outro, sem meios de transporte, só para relançar a FNLA das cinzas para a sua participação nas primeiras eleições, em 1992, onde nem mostrou ambições para ser deputado, embora o merecia.
Agora pergunto-me, entre o Lucas Ngonda e os discidentes do COMIRA, que desmantelaram por completo a FNLA e do seu braço armado ELNA, quem são realmente traidores ?
Lucas Ngonda reconstruiu a FNLA que os “Ba Sansala” do COMIRA destruíram !
O objectivo de Lucas Ngonda é o bom funcionamento do partido e não à exaltação de uma região que teve consequências nefastas da existência e da sobrevivência da FNLA. Gostaria de ser contradito pelos militantes verdadeiros da FNLA e não pela família do Holden Roberto os pelos originários de ex-São Salvador.
Os traidores e ignorantes, não podem escrever a história
Prof. Lucas Ngonda não é ignorante nem traidor. É humano ser ambicioso. Mas devemos o apreciar como nacionalista, para o benefício futuro da FNLA, como foi o prestígio do seu passado. Os que insultam Lucas Ngonda são traidores e falsificadores da história de Angola e da FNLA.
YEMBE, YEMBE, YEMBE, VIVA YEMBE.
Reconheço que o Presidente Holden Roberto morreu de decepção, ele é um exempro do nacionalismo que Angola sacrficou, que não merecia o triste fim que teve : Falecer num total esquecimento.
Meus agradecimentos pelos seus ensinamentos .
(*) Makisosila Mawete, antigo membro da FNLA, 61 anos de idade, natural de Kibokolo, no Zombo, província do Uíge. É professor e investigador em Ciências-Sociais. Director do Laboratório de Antropologia do Renascimento Africano (LARA), em Paris França.
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