LUFUANKENDA ANTÓNIO SAMUEL. Um jovem que nunca baixou os braços.

Por Rui Ramos

Natural de Kimbele, no Uíge, Lufuankenda foi levado para Luanda pela tia, passando a enfrentar dificuldades financeiras extremas mas que não o impediram de estudar sempre que pudesse e de aprender a profissão de costureiro, que hoje exerce ao ar livre, debaixo de uma árvore.

Lufuankenda António Samuel, filho de António Samuel e de Feliciana António Lundevidico, nasceu em 15 de Março de 1998, há 22 anos, no bairro Kissacumuna, em Kimbele comuna de Alto-Zaza, província do Uíge.

Logo aos três anos de idade, Lufuankenda António Samuel perdeu a mãe, por doença e, por causa deste trágico acontecimento, teve de abandonar a casa do pai e ir viver com a avó materna, no bairro Kemuyandena, na comuna de Kimarimba, onde vive até 2010, com 12 anos.

Durante este período, recorda Lufuankenda António Samuel, enfrentou dificuldades extremas porque a avó estava muito doente e não tinha qualquer provento, a pobreza em casa era extrema e cada dia era vivido com grande desespero e pessimismo. “Nós não tínhamos o que comer, não conseguíamos obter qualquer valor para comprar comida, então vivíamos do milagre de todos os dias acordarmos com vida.”

No final de 2010, com 12 anos, Lufuankenda António Samuel toma a decisão de ir visitar o pai e passa a viver com ele, para fugir à impossibilidade de continuar a viver com a avó. Um ano depois, Lufuankenda António Samuel começa a estudar mas não consegue comprar livros nem material escolar.

Com 14 anos, Lufuankenda António Samuel é levado por uma tia para Luanda, onde é confrontado com novas e extremas dificuldades financeiras que novamente dificultam os seus estudos.

Em 2013 é matriculado na Escola Grande, no município de Cazenga, em Luanda, mas por causa da idade, é-lhe recusada a matrícula, com a alegação de que com 10 anos não podia estudar a sétima classe, com total desprezo pelas condições em que se desenvolvia a educação do jovem.
Assim, Lufuankenda António Samuel viu-se forçado a repetir a sexta classe, na escola da IEBA (Asa Branca) onde trabalhava um seu irmão, mas quando termina a sexta classe, teve de mudar porque a escola da IEBA só tinha até à sexta classe.

Sem condições financeiras para prosseguir os estudos, Lufuankenda António Samuel, com enorme tristeza, tem de aguardar um ano para ser matriculado numa escola no Bar Grafanil (escola com nome de salão).

Em 2015, Lufuankenda António Samuel vai viver no bairro Bita Mutamba Igreja onde fica até terminar o ano lectivo mas confrontando enormes dificuldades financeiras, tendo de enfrentar a fome diária.

O irmão ensina-o então a costurar e Lufuankenda António Samuel põe nesta profissão todo o seu empenho e esforço e assim vai conseguindo remediar o pagamento dos estudos, mas muito irregularmente porque os proventos não eram certos e havia a família para sustentar. Mas nunca desistiu, só adiou. Lufuankenda António Samuel acaba por ser expulso da escola por não conseguir pagar as mensalidades.

Lufuankenda António Samuel volta então para casa da tia, que também não tinha quaisquer proventos, o que agrava as dificuldades financeiras.

Aos 19 anos, Lufuankenda António Samuel matricula-se na escola Ngola Kiluanje (Primeiro de Maio), mas o seu dia a dia era passado a enfrentar dificuldades, que lhe pareciam intransponíveis, pois não conseguia valores para o transporte nem para os livros e alimentação.

Com espírito de sacrifício extremo, nunca desistindo, no auge do desespero, o jovem Lufuankenda António Samuel termina o ano lectivo em 2017 e transita para a décima primeira classe.

Em 2018, Lufuankenda António Samuel volta a estudar na mesma escola, onde termina penosamente a décima segunda classe, pois não possuía quaisquer valores monetários que lhe permitissem sobreviver no dia a dia.

O irmão mais velho consegue, em Fevereiro deste ano, que Lufuankenda António Samuel trabalhe numa lavandaria mas, para seu azar, a pandemia da Covid 19 obrigou a empresa a dispensar o pessoal e Lufuankenda António Samuel foi abrangido nos despedimentos.

“Mas como tenho a minha profissão de costureiro, voltei a fazer o que gosto de fazer e actualmente estou a costurar por baixo de um árvore no distrito urbano da Cidade Universitária junto ao Estádio 11 de Novembro, em Luanda, recebendo trabalhos de costura de moradores na zona e não só e lutando para um dia conseguir um lugar melhor para o meu trabalho.”

Lufuankenda António Samuel não desiste de estudar, sempre atento a qualquer oportunidade, e não baixou os braços quando se tratou de aprender uma profissão que, hoje, lhe assegura um pequeno rendimento. 

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