Mambu Teresa Muanza apresenta livro didáctico

Por Gaspar Micolo

Depois do seu “Manual Didáctico de Filosofia”, para o 12ª classe classe à luz da Reforma Educativa, editada em 2012, a professora e filósofa angolana Mambu Teresa Muanza apresenta no dia 26 de Junho, na Universidade Católica, mais uma obra ligada à sua área de formação, desta vez voltada para um público vasto e para os estudantes do ensino superior e docentes. Trata-se do “Manual Didáctico – 24 aulas de lógica formal e 60 aulas de metafísica”, que conta com o prefácio do jurista Marcolino Moco.

Licenciada em Filosofia e Ciências da Educação, Mestre em Teologia Dogmática e Doutora em Filosofia Africana, Mambu Teresa Muanza, dedica-se à investigação e à docência, além da vida religiosa, depois de passar décadas em formação na Itália e na Alemanha. A sua mais recente obra é, com esse percurso de vida, um convite à reflexão.

“Os destinatários da nossa obra, são todos aqueles que amam reflectir com muita profundidade, são os activos mentais, são os iluminados da e na mente, são os estudantes e docentes de Filosofia, Lógica, Metafísica, Teologia e Ontologia. Enfim, são todos os homens e as mulheres que desejam dar um rumo diferente à vida, pois a Filosofia e, por conseguinte, os seus deferentes ramos, como a Lógica e a Metafísica, são para a vida. Ela ajuda a pessoa a ser homem”, diz a docente da Faculdade de Humanidades da UAN.

A académica angolana revela ao Jornal Cultura que várias razões a motivaram a escrever a obra, a começar pela insatisfação positiva. “Eu sou uma mulher que não se contenta com aquilo que penso saber. Considero sempre muito pouco ou quase nada aquilo que presumo saber. Por isso busco, amo a investigação para aprender sempre mais, pois não quero que a velhice intelectual se apodere de mim”, diz a escritora e filósofa que nasceu na Damba (Uíge) em 1972. Incansável, a religiosa consagrada na Congregação das Irmãs da Misericórdia, além das suas habituais obras de filosofia, escreveu recentemente a sua autobiografia.

Além da sua constante insatisfação enquanto pesquisadora, Mambu Teresa Muanza mostra-se sempre disponível para contribuir no progresso cientifico do país, em particular da camada jovem da nossa sociedade. “Não aplaudo o facto dos jovens estudantes não disporem de material de apoio durante a sua formação. Devemos deixar Angola um pouco melhor de como a encontramos. Enfim, desejo ajudar os nossos leitores no seu crescimento intelectual-racional”.

Leitora voraz em dez línguas, Mambu Teresa Muanza serve-se desta vantagem para apresentar um livro renovador: opta por reduzir a referência bibliográfica porque, como conhecedora do grego, a língua original da Filosofia antiga e a clássica, prefere não passar por terceiros. “Li o Platão, o Aristóteles, o Parménides e outros a partir do grego, logo, eu mesma fiz a hermenêutica das fontes originais”, diz, acrescentando que outra das novidades, que até aqui não se encontram nos tratados de Lógica nem da Metafísica, é o discurso sobre o “Natal de Jesus Cristo e a Metafísica de Platão”. E, por isso mesmo, esclarece já a sua perspectiva inovadora: “Isto parece ser um escândalo filosófico. Trato da “teologia natural” de Aristóteles, o famoso motor imóvel e muito mais”, avança. Com uma estrutura e dosificação do conteúdo que facilitem a aprendizagem, a autora recorre, nos exemplos que usa em ambos os tratados, a nomes que definem a nossa identidade cultural.

FILOSOFIA AFRICANA BANTU

Além da docência, Mambu Teresa Muanza dedica-se a olhar igualmente para a Filosofia Africana, procurando trazer nos seus manuais o resultando das suas investigações. Contudo, começa por esclarecer que não a aborda no geral, já que se trata de um continente com realidades distintas. “É difícil tratar de todo o continente, por isso delimito a minha pesquisa à África Bantu, que vai dos Camarões a África do Sul”.

A estudiosa refere, entretanto, que ainda não encontrou uma Filosofia Africana Bantu sistematizada desde os tempos remotos, embora reconheça que, em Alexandria, no Egipto, havia a grande Biblioteca mundial que conservava vestígios importantes. “É possível que lá se encontrasse alguma coisa que tratasse da Filosofia Africana Bantu; mas, se o perdemos devido ao incêndio, então não podemos falar em resgatar”, diz, que prefere valorizar o pensamento expresso oralmente.

Mambu Teresa Muanza explica que a Filosofia Africana Bantu baseia-se em três colunas, nomeadamente, o princípio da tradição oral, o princípio da complementaridade e o princípio da ancianidade. “Os princípios da tradição oral e da ancianidade caminham paralelamente, já que o ancião é considerado o sábio, é a biblioteca que faz o uso do poder da palavra e vive uma complementaridade com o mais novo que ouve e capta”, diz, aclarando que, o mais novo, pode assim reelaborar e pôr em escrito.

“(…) O princípio da ancianidade é de extrema importância na estrutura sócio-política africana, e na estrutura filosófica é indispensável sentir e pensá -lo estando aberto à escuta da palavra dos mais velhos, pois são eles que possuem a palavra e sem ela não tem vida (…)”, escreve a estudiosa no seu livro “Filosofia: desde os Présocráticos até Santo Tomás de Aquino” (p. 327), publicado em 2013, em que dedica um capítulo à Filosofia Africana.

Assim, a valorização é, para si, a passagem da oralidade para a escrita, num esforço para a sistematização da Filosofia Africana Bantu, de maneira que possa ser proposta como uma cadeira universitária a ser estudada em África e no Mundo.  “É preciso universalizar este pensamento”, diz a presidente da Associação de Investigadores e Filósofos Angolanos (AIFA).

Para uma proposta tão ambiciosa, procuramos saber se a pesquisadora estabelece comunicação com a produção de outros filósofos africanos empenhados na mesma causa. Mambu Teresa explica que existe apenas uma comunicação indirecta, ou seja, a partir dos textos que outros estudiosos produzem. Como exemplo, destaca os trabalhos de referência mundial da Universidade de Lubumbashi, uma das maiores universidades da República Democrática do Congo. Indica ainda trabalhos vindos do Quénia, do Ruanda, da Costa do Marfim, etc.

Concretamente, a Mambu Teresa indica os textos lidos do filósofo congolês César Mawanzi Ndombe, que aborda a interpretação simbólica como dimensão para compreender o mundo do africano Bantu; e de Alexis Kagamé, filósofo e historiador ruandês, fala da linguagem interpretada como hermenêutica na concepção africana Bantu.

“Ele interpreta aquilo que são as dez categorias de Aristóleles. Ele sintetiza em quatro categorias, que abordei na minha tese de doutoramento”.

A freira angolana aponta ainda o nome incontornável do filósofo marfinense Paulin J. Hountondji, que se ocupa da Filosofia dos Intelectuais na África subsaariana.

E, por fim, indica ainda os trabalhos do filósofo queniano John Samuel Mbiti, que se ocupa sobretudo da dimensão do tempo. “Ele explora a forma como o africano encara, concebe e entende o tempo”.

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