Maquela do Zombo – Um sonho desfeito.

A vila de Maquela do Zombo-2009

Por Fernando Ribeiro

Já não têm conta as vezes em que foi comentada a decisão tomada pelo general Norton de Matos de criar uma cidade, a partir de uma for-tificação existente no Planalto Central de Angola: a cidade do Huambo, a que mais tarde foi dado o nome de Nova Lisboa.

Houve, contudo, uma decisão de carácter idêntico, tomada pelo mesmo governador-geral de Angola e posterior alto-comissário, que praticamente nunca é referida pelos seus biógrafos. Esta outra decisão consistiu também na criação de uma cidade, situada no extremo Norte de Angola, a dois passos da fronteira: Maquela do Zombo.

Em rigor, Maquela do Zombo já existia há séculos, tendo sido uma povoação muito importante do Reino do Congo. Esta antiguidade de Maquela estava confirmada pela existência de uma igreja quinhentista, classificada como monumento nacional, que era a segunda igreja mais antiga de todo o território de Angola e a mais antiga de todas quantas ainda estavam em condições de nelas se realizarem actos de culto.

A decisão tomada pelo general Norton de Matos consistiu em reanimar a histórica vila, transformá-la numa cidade e fazer dela a capital do Congo Português, de tal modo que ela fosse capaz de rivalizar com as capitais do Congo Belga e do Congo Francês, respectivamente Léopol-dville (actual Kinshasa) e Brazzaville.

Para esse fim e sob sua orientação, em Maquela do Zombo começaram a ser rasgadas ruas e avenidas e foi construído um luxuoso palácio, no meio de um exuberante jardim tropical, para servir de sede ao governo do distrito do Congo Português. Este palácio foi propositadamente erguido à entrada da projectada cidade, ao fundo de uma comprida recta da estrada vinda de Léopoldville, de maneira a que os viajantes, acabados de chegar do Congo Belga, vissem bem aquele símbolo da grandeza da colonização portuguesa assim que entrassem em Angola.

Este projecto de Norton de Matos falhou, porque foi logo abandonado assim que ele deixou o cargo de governador-geral da colónia. A capital do distrito foi transferida para a cidade do Uíge, as obras pararam e Maquela do Zombo caiu no esquecimento, permanecendo uma simples vila fronteiriça, sede de uma circunscrição apenas com uma mão-cheia de polícias, funcionários e militares. A sua população civil, negra e branca, de escassos milhares de habitantes, entregava-se sobretudo ao comércio legal e ao contrabando. A grandeza sonhada pelo general Norton de Matos, para uma nova cidade no Congo Português, desfez-se em fumo.

Entretanto, Brazzaville foi crescendo na margem direita do Rio Zaire. Na margem oposta, Léopoldville/Kinshasa transformou-se numa das maiores cidades do mundo, com vários milhões de habitantes (mais de 10 milhões, actualmente), e tornou-se, sem ponta de exagero, na verdadeira capital cultural, humana e social de toda a África Central (dizia-se até, por brincadeira, que a cidade de Brazzaville não precisava de ter iluminação nocturna, porque o brilho das luzes de Kinshasa chegava para iluminá-la…). Quanto a Maquela do Zombo, coitada, essa ficou irreme-diavelmente para trás, triste e atrofiada, de tal maneira que mesmo em 1974 ainda não tinha uma única rua pavimentada.

O que seria de Maquela do Zombo se o sonho do general Norton de Matos tivesse sido materializado?

Fonte: huambino.blogs.sapo.pt

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