Por Sebastião Kupessa
Actualmente encontra-se na cidade de Kinshasa, capital da RDC, depois de 15 anos do seu exilio no velho continente. Na sua bagagem, Matolu Dode “Papy Tex”, faz-se munir de um programa ambicioso para “reanimar” um dos conjuntos musicais mais célebre da África Negra, Empire Bakuba. Prevê ainda produzir um mega-concerto em honra do ilustre falecido, Pepe Kallé, antigo líder virtual da banda musical.
Para muitos, o desaparecimento físico do Kabasele Yampanya “Pépé Kallé”, no dia 29 de Novembro de 1998, marca também o fim de um dos mais famosos agrupamentos musicais do continente africano, verdadeiro património da cultura Bantu. Com efeito, desde essa data, Empire Bakuba, cujo o impacto artístico se fêz sentir nos corações de muitos melómanos africanos, ao longo de um quarto de século, galvanizando populações em estádios de futebol, nunca mais chegou a prodizir obras que fizeram a sua gloria no passado.
Os seus líderes-fundadores, nada fizeram para perenizar a coesão do conjunto. Papy Tex decidiu exilar-se em Paris, onde reside até hoje. Dilu Dilumona, religioso praticante, preferiu ocupar-se das “ovelhas” da sua paróquia da Igreja católica na sua comuna. Bileku Mpasi, o principal animador do grupo, chefe de orquestra durante uma década e o jovem virtuoso de viola baixo, Ndombasi Mbemba “Gode Lofombo”, formarão uma banda independente “Delta Force”, com os músicos da antiga ala juvenil formada pelo próprio Pepe Kallé. Enfim, o guitarrista-solo Kinanga na Nzawu “Boeing 737” recupera alguns músicos da velha geração, para montar outra banda com o nome Fondation Empire K.V.K (Kwenda Vutu Ka).
Dilu Dilumona vai tentar, momentos depois, de salvar o barco do naufrágio, produzindo um CD intitulado “Tour de Babel”, a obra não terá sucesso esperado. Pois a ausência de vozes dos principais componentes do conjunto, fêz-se sentir. Bileku Mpasi, como independente e Empire (Fondation K.V.K) vão largar no mercado um CD, respectivamente, com certo sucesso, o que gera a espectativa de ver ressuscitar o famoso conjunto musical. Mas o tempo passa, os artistas são incapazes reproduzir as proezas, não obstante as promessas. Actualmente está para ser comercializado um DC de autoria do Papy Tex com dêz faixas, que sâo remix dos sucessos antigos com o título “Best of Papy Tex” ( https://www.youtube.com/watch?v=IJYxDQ4LF7k)
Consultando o seu palmarés, o Empire Bakuba, ja sagrou-se a melhor orquestra africana e ainda mais, já foi premeado, o melhor dos paises do ACP (África, Cairaíbe e Pacifico). Enquanto no seu país, foi um dos habituados nos poduims, anualmente, quer seja como melhor banda musical, autores-compositores ou ainda melhores composições.
Importa salientar que o Empire Bakuba é um conjunto que toca rumba congolesa com fortes doses de rítmos tocadas em Angola, importados pelos refugiados angolanos no ex Congo Belga.
A origem do EMPIRE BAKUBA.
Oficialmente fundado em 1972, pelo trio Pépé Kallé, Dilu Dilumona e Matolu Papy Tex, sob proposta do percussionista do Afrisa International do Senhor Tabu-Ley, Seskain Molenga. Com efeito, o grupo já existia com o outro apelido “African Choc”, originário de uma das comunas populares de Kinsahasa, Barumbu.
Sendo ambos alunos da mesma escola, a ” L’école catholique St Paul “, Jean Baptiste Kabasele Yampanya, futuro Pépé Kallé e Matolu Dode “Papy Tex”, apenas com um pouco mais de 17 anos, tentam a sorte no mundo musical, gravando em disco a canção com o título “Pardon Papy”, em 1968. Apesar de serem jovens, a canção vai chamar atenção do próprio Kabasele Tshamala, dito Grand Kallé, o fundador da música congolesa moderna, na procura do novo sangue para inovar a sua orquestra, African Jazz, minada pelos abandonos de gigantes como o guitarrista Kasanda wa Mikalayi “Dr. Nico” e Tabu Ley Rochereau. Os dois jovens serão adoptados por ele e ganharão experiência como vocalistas.
Dois anos depois, os dois cantores vão solicitar a ingressão em um conjunto musical na comuna de Kasavubu, mais famosa entre os jovens daquele tempo, “Myosotis”. Meses depois, o célebre Paul Ebengo Dewayon, patrão do grupo musical “Cobantou”, vai organizar um concurso para os jovens talentos de Leopoldville (hoje Kinshasa). Recordamos que Dewayon, é formador de muitos artistas congoleses, como o “Imbondeiro da Rumba Congolesa”, o Maestro Luambo Makiadi aliás “Franco”; incluíndo os seus próprios irmãos, Bokelo Isenge, patrão do Conga Succès; do Porthos, que foi importante guitarrista do “Festival de Maquisard” de Sam Mangwana com o Diana Simba Simão, em 1969, etc.
Sob identidade do seu antigo grupo “African Choc”, Papy Tex e Pépé Kallé vão ganhar o concurso, como melhor banda musical de jovens da capital. A vôz grave do Pépé Kallé vai impressionar muitos “recrutadores” presentes no concurso, assim o “drummeur” Seskain Molenga vai convidar os jovens para repetir na sua residência. Como precisava de um coro do tipo góspel, o seu colega Lokasa ya Mbongo, no Afrisa, vai trazer mais um outro vocalista, Dilu Dilumona, vindo da comuna de Kitambo. Assim completa-se um dos trios mágico e duradouro de toda história da Rumba Congolesa.
O trio será completado pelos guitarristas Yosa, Ebuya Dorris, Elvis Nkunku, mais tarde com o cantor Likinga Manzenza “Redo, que ilustrou-se, tempos depois, no Zaiko Langa langa. O solista Kinanga na Nzawu “Boeing 737”, vai substituir o Yosa, que decidiu abandonar o grupo para fundar o seu “Bakuba” Mayopi, com Bialu Madilu e Pinto.
Seskain Molenga, o padrinho do grupo, vai propôr a denominação do agrupamento musical, Empire Bakuba, em honra de um reino bantu na região do Kassai, que existiu no passado.
Empire Bakuba vai entrar no estúdio Vévé para gravar o seu primeiro disco, composto por Seskain Molenga, Nazoki, a canção faz sensação, o que vai estimular-lhes gravar outras, como Kumbe, de Dilumona, Sanda e Kanu de Papy Tex ( em escuta neste artigo) e Nakobelela de Pepé Kallé. Este último será emprestado aos “Estábulos Vévé” do saxofonista Verckys, onde durante meses, vai acompanhar no estúdio, os conjuntos Bella-Bella, dos irmãos Soki, participando na gravação das canções memoráveis como Sola e Mbuta; Lipua Lipua de Nyboma com as canções como Lusamba e Kamalé; finalmente na orquestra Véve, onde evoluia Matadidi Mário, interpretando a canção histórica de Kiamwangana Mateta Verckys “Nakomitunaka”.
Pelo amor de um trabalho bem feito, o Empire Bakuba dirigido pelo trio KADIMA, vai impôr-se como uma das melhores bandas musical do soukouss zairense, verdadeiro “jungle” da cultura musical africana, onde, naquele tempo, nasciam dezenas de bandas por mês, algumas apereciam como furacâo e depois desapereciam para sempre, deixando canções antalógicas. Mas nâo será o caso do Empire Bakuba, que vai fazer prova de unidade e de produtividade jamais vista no ex-Congo Belga, recolhendo sucessos em sucessos, largando, periòdicamente no mercado de discos, canções de sucesso, como Montese, Vava, Kabambare, Sango ya mawa, Matinda, Paralisé, Mungu, Dadou, Kay Tshim, Article 15, Mboyo, Zabolo, Miss Goma, Phono, 8 mil km, Tout Saint, etc. Acompanhadas de danças, criadas pelo grupo, como Esombi, Kwanza, Soumaré, etc.
O Empire Bakuba conta com centenas de composições no seu repertório.
A consagração internacional de Empire Bakuba
No início dos anos 80 do século passado, o grupo antilhado Kassav domina o mundo musical dito do “Terceiro Mundo” qualificado pelos cronistas, como sendo o A.C.P ( África, Caraíca e Pacífica). Durante vários anos, o Kassav, não conheceu rival nesses paises, chegando invadir o próprio templo da música africana, Kinshasa. Em 1986, Jacob Devarieux e Goerge Decimus, compõem uma música com o titulo Mwen Malade Aw. Pépé Kallé e o seu Empire Bakuba, descobrem que a dita canção contém extratos de uma canção da sua autoria, o que lhes inspira de introduzir um pouco de Zouk nas suas composiçôes.
Em 1989, Pépé Kallé viaja para Europa, para fazer mixagem de um maxi-single, como faltava espaço, o produtor vai obrigar-lhe acrescentar mais uma canção, assim, vai contactar o solista Diblo-Dibala, do agrupamento Loketo, juntos vão improvisar uma canção de animação como genérica do disco, repetida apenas em um dia. O título será, em creolo martiniquêz, “Pou Mon Paka Bougé”, uma mistura de Zouk com o Soukouss congolês. Pépé Kallé estava longe de advinhar que esta canção, arranjada a pressa, va destronar o famoso grupo caraíbico e ao mesmo tempo, a criação de um novo estilo musical africano, o Coupé Decallé, que domina actualmente na África ocidental.
A canção será tocada frenquentemente em meios Afro em Paris, onde o “Elefante da rumba congolesa” é convidado a produzir espectáculos em play-back. O sucesso da canção precede o artista em Kinshasa, o genérico “Pou Mon Paka Bougé” bate o record e ocupa lugar cimeiro no hit-parade de Kinshasa durante longos meses. No regresso do Pépé Kallé na capital do ex-Zaire, o Empire Bakuba compõe uma outra canção, com o mesmo estilo Zouk-Soukouss “Carnaval Dechade” (em escuta neste artigo) com animação explêndida do Bileku Mpasi “Djuna Mumbafu”, seguindo outras canções com mesmo rítmos, como Roger Milla, Gerant, Shikamo Seye, L’argent ne fait pas de bonheur, etc. Desta vêz, toda Antilha reclama a presença do Empire Bakuba. Finalmente, é consagrado campeão dos A.C.P atravêz de um referendo organizado pelos jornalistas selecionados pela R.F.I (a Rádio Francesa internacional). Empire Bakuba ganha em 1990 dois troféus, do melhor conjunto e de animação ( ver a ligação )
Quem é o Papy Tex ?
O seu nome verdadeiro é João Matolu Dodé Mbizi, nasceu em Leopoldville aos 28 de Junho de 1952. Filho de João Mbizi e de Maria Saka, ambos naturais de Makela do Zombo, província do Uíge. O seu pai refugiou-se no Ex-Congo-Belga em 1928, onde conheceu e casou a sua mâe, divorciando-se um pouco tempo depois, o jovem João Matolu Dode, será criado pela segunda esposa do seu pai, Josephine Membo Matolu, de nacionalidade congolesa, em que o artista rende repetidas homenagens. A sua mâe biológica reside actualmente em Luanda. Papy Tex, o seu nome artístico, foi marido da falecida Lea, sobrinha do antigo Comissário Provincial do Uíge, Emmanuel Norman “Nlamvu”.
Papy Tex é a vôz cristalina cheia de melancolia do Empire Bakuba, uma das vozes mais finas da Rumba congolesa. Autor-Compositor de talento, com o estilo próprio. Um dos raros que canta o romantismo, neste contexto, ele é um general de quatros estrelas, é por isso que a maioria dos seus fanáticos, sejam do sexo feminino.
A sua canção “Sango ya Mawa” foi plebiscitada como melhor em 1978. Um dos fundadores do Empire bakuba e foi responsável durante a sua existência responsável pelas finanças do grupo.
Foi o mais fiel colega e amigo de Pepe Kallé.
Obs: Para escutar as músicas de Empire Bakuba, o favor de “clicar” nas setas (nâo esquecer a seta verde). Boa escuta.
Kanu – Papy Tex / Empire Bakuba
Vava – Dilu Dilumona / Empire Bakuba
Maman Isola – Pepe Kallé / Empire Bakuba
Pou Mon Paka Bougé / Pepe Kallé
Carnaval Dechade / Empire Bakuba
Cocktail / Empire Bakuba
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