Por Adalberto Ceita
Integrante do “Processo dos 50”, José Diogo Ventura, à semelhança de outros companheiros de luta na clandestinidade, encontrava-se preso quando foi desencadeado o ataque às cadeias dos colonialistas na madrugada do dia 4 de Fevereiro de 1961.
Em declarações ao Jornal de Angola, disse que aquele acto conduziu à Proclamação da Independência Nacional a 11 de Novembro de 1975. Depois daquele acto de heroísmo e outros que se seguiram em períodos relativamente próximos, o regime colonial foi forçado a alterar a sua política em relação a Angola.
Aos 85 anos, e grande parte da vida dedicada à luta anti-colonial, o que levou a passar dez anos na prisão, divididos entre a Casa da Reclusão e o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, José Diogo Ventura não hesita em considerar que o regime colonial terminou no primeiro trimestre de 1961. O que se seguiu, afirma, foi uma guerra num país ocupado por forças militares estrangeiras.
“Em finais dos anos 50 o regime colonial estava no auge. Possuía um sistema administrativo bem organizado, económica e militarmente forte, e em 1961, com o 4 de Fevereiro, e posteriormente o duro golpe de 15 de Março no Norte de Angola, foi forçado a alterar a sua política em relação a Angola”, lembrou.
Conta que na época os angolanos estavam privados de direitos essenciais: “os angolanos estavam no cultivo do café, mediante a figura eufemística de contrato, no fundo, uma forma de encobrir ao mundo a subjugação que vigorava”.
José Diogo Ventura explica que o fim da II Guerra Mundial e a criação da Organização das Nações Unidas proporcionou mudanças a nível mundial e continental, que acabaram por pôr fim ao jugo colonial num conjunto vasto de países africanos e aumentar a vontade dos angolanos pela liberdade e autodeterminação.
A luta política clandestina foi intensificada com a publicação e distribuição de panfletos, a divulgação da luta que era desencadeava em Angola junto dos movimentos de países africanos e de outros continentes.
Grupos como o Movimento para a Independência de Angola, o Exército de Libertação de Angola, e a Associação Espalha Brasas, onde militava, alertavam os angolanos para a mudança, mas havia a convicção que era preciso fazer mais. E foi em consequência da participação na luta anti-colonial que veio a ser preso e condenado juntamente com outros companheiros da clandestinidade, entre os quais, Agostinho Mendes de Carvalho, Ilídio Machado, José Manuel Lisboa, Manuel Bernardo de Sousa, Aniceto Viera Dias, António Jacinto e António Cardoso.
Condenado pelo Tribunal Militar Territorial de Angola, em Dezembro de 1960, José Diogo Ventura cumpria a pena na Casa da Reclusão quando se deu o 4 de Fevereiro.
A sequência de situações de injustiça, exploração e as prisões arbitrárias contra todos os que afrontavam o poder colonial, fizeram aumentar o número de revoltosos e tiveram impacto para a consumação do ataque. Mas desconhecia os contornos do plano armado.
“Em vez de se amedrontarem com as prisões e os maus tratos, os movimentos de angolanos que lutavam pela Independência Nacional aumentaram a vontade de pôr fim ao colonialismo”, afirmou.
As lembranças da morte dos companheiros em defesa da dignidade deixam-no triste, mas José Diogo Ventura não esconde o orgulho por viver num país livre da dominação estrangeira. O início da luta armada sucede a situações que marcaram os piores momentos da História de Angola. Vivia-se o período em que o regime colonial usava o seu poderio militar para travar toda a tentativa de reivindicação.
Aponta como exemplo, o massacre da revolta dos camponeses na Baixa de Cassanje, no dia 4 de Janeiro de 1961 onde foram mortos milhares de angolanos.
Diogo Ventura dá a sua opinião sobre esse acontecimento: “Penso que foi a partir daí que a luta política na clandestinidade deixou de ter efeito e se dru início à luta armada, também precipitada pela presença em Angola de dezenas de jornalistas com a missão de difundir a chegada do navio Santa Maria, desviado pelo capitão Henrique Galvão, uim opositor ao ditador Salazar, para reivindicar a insatisfação dos portugueses contra o regime colonial fascista”.
Coragem e mudança
Os acontecimentos da madrugada do 4 de Fevereiro de 1961 apanharam de surpresa as autoridades coloniais em Angola. José Diogo Ventura destaca a bravura e coragem demonstrada pelos combatentes, aquele acto de heroísmo e a forma organizada como escolheram os alvos a atacar.
Diogo Ventura recorda essa data gloriosa: “Tomei conhecimento no mesmo dia. Estava preso e pela intensidade do tiroteio que vinha de fora compreendi que alguma coisa de muito grave tinha começado e que o fim estava próximo”.
José Diogo Ventura diz que a notícia era de todo sigilosa para não levantar suspeitas uma vez que a PIDE possuía homens infiltrados nos diferentes bairros de Luanda. Justifica que em qualquer associação composta por homens existem os traiçoeiros e o mínimo descuido podia ser fatal. “Tivemos uma acção quase semelhante que visava o ataque à Cadeia de São Paulo e que foi abortada por traição de alguém que avisou a PIDE”.
Em resposta “cercaram os bairros dos indígenas e mataram muita gente”, lamenta. O 4 de Fevereiro trouxe inúmeras mortes e detenções, mas também ganhos. José Diogo Ventura destaca que mais adiante, e também por força dos grandes movimentos de angolanos a política repressiva reduziu e emergiu a facilidade no acesso ao ensino e emprego para os angolanos.
Decorridos 54 anos, José Diogo Ventura é de opinião que a matriz do 4 de Fevereiro está presente na vida dos angolanos, embora se verifique a tendência de algumas pessoas em diminuir a sua importância, no contexto da luta de libertação nacional.
Via JA
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