Revisitando Viriato da Cruz I:
Mensagem aos militantes do MPLA, sobre a crise no seio do MPLA. Carta datada de 15. 11. 1962 .
Aos camaradas militantes do MPLA e do EPLA.
Ao partir de Leopoldeville cumpro o dever de informar aos militantes o seguinte:
Tenho estado em desacordo com alguns dirigentes do movimento sobre o seguinte:
– Nao aceito a teoria da inevitabilidade do neo-colonialismo em Angola, teoria que alguns dirigentes veem defendendo. Essa teoria, que afirma que não podemos evitar o neo-colonialismo em Angola, desarma o espirito combativo do Povo, atraiçoa os grandes sacrifícios, em vidas e em sangue, que o povo vem fazendo; abre as portas do nosso movimento a uma política sem princípios , oportunista e de falta de escrúpulos e de carácter.
– Não aceito a política de divisão que um grupo de dirigentes e de militantes vem fazendo dentro do movimento, desde há dois meses. O MPLA que lutou sempre sinceramente para a união de todo o nacionalismo angolano, deverá continuar a dar, ele próprio, o exempro da união dos angolanos.
– Não aceito a política de perseguição e de afastamento de militantes na secção política e da secção militar do MPLA. Essa política esta errada, é odiosa, é policial. Essa política, que alguns dirigentes vem fazendo ilegalmente e arbitráriamente, baseia-se na vontade de um grupo que pretende impor ao Movimento a sua política.
– Não aceito as manobras que certos militantes vem fazendo para impor ao Movimento uma direcção cujo nucleo principal seja um grupo de pessoas que fizeram longa amizade na Casa dos estudantes do Império.
– Não aceito que não se condene a intriga e a calúnia dentro do nosso movimento. Nem aceito que os intriguistas e os caluniadores continuem a receber o apoio moral e material do Movimento, quando, por outro, esse apoio é negado a militantes honestos e trabalhadores.
– Não aceito a ambição exagerada de um grupo de militantes de vigésima hora.
– Não aceito o culto de personalidade dentro do Movimento. Cada dirigente deve conquistar a confiânça e o respeito dos militantes, na base do seu valor pessoal e real , na medida em que ele é fiel à linha política do Movimento, na medida em que ele se dedique ao trabalho sem demagogia , e na medida em que ele respeite e faz respeitar os princípios do nosso Movimento. No MPLA houve sempre lugar e devera continuar a haver lugar para todos os nacionalistas honestos que pretendem dedicar-se sinceramente a libertação e a defesa dos interesses dos milhões de homens e de mulheres humildes de Angola.
Peço a todos os militantes que permaneçam dentro do Movimento. É absolutamente necessário realizar-se dentro em breve, um congresso do MPLA (ou uma conferência nacional, como se vem dizendo). Esse congresso devera ser preparado por um Comite preparatório largo, composto por militantes que representem os diferentes problemas do povo que deverão ser tratados no congresso.
– Nao aceito um comité preparátorio com uma maioria de amigos que se constituiram em grupo dentro do movimento.
Estou pronto a curvar-me perante às decisões de um congresso representativo da massa de militantes do MPLA , um congresso preparado honestamente por um comité preparátorio representativo dos diferentes problemas do povo , mas não aceito a política que um grupo de militantes de vigésima hora pretende impor arrogantemente ao nosso movimento.
Estou confiante em que a inteligência, a razão, o bom senso e um verdadeiro espírito revolucionário triunfarão dentro em breve no nosso movimento.
Que cada militante lute por um MPLA unido, forte e fiel aos interesses de milhões de homens humildes de Angola.
Leopoldville, 15 de Novembro 1962
Ass. Viriato Cruz
Fonte: Facebooke/ Grupo de discussões “Conversas à sombra de Mulemba”/Drummond Jaime
Consultar também o seguinte artigo: A criação do MPLA
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