MIGUEL MPANZO SEBASTIÃO: SAIU DA ALDEIA EM BUSCA DA CONQUISTA DA LITERATURA.

Por Rui Filipe Ramos

Natural da Damba, desde cedo descobriu a sua vocação para a literatura e em especial a poesia e escreve quse sem parar. *Rui Ramos*

Miguel Mpanzo Sebastião, conhecido por Mero Panzito em meios culturais, é natural da Damba, Província do Uige, nascido a 7 de Agosto de 1992, filho de Sebastião Bengui e de Teresa Ninga, penúltimo filho de entre os 6 filhos dos pais.

“Desde muito cedo tive a paixão pelo jornalismo, nos anos 2004 o meu desejo de ouvir notícias pela rádio era muito forte, o meu pai reclamava porque ocupava o seu aparelho para ouvir notícias e eu imitava os jornalistas”, recorda Miguel Mpanzo Sebastião que residia em zona rural e com a sua 2ª classe ambicionava ir para a cidade mas isso não lhe era possível.

“Os meus pais não tinham condições, vi muitos amigos irem para a cidade, os meus prometiam-me que a minha vez chegaria, esperei muito, mas isso não acontecia, fiquei conformado com a realidade, continuei a estudar lá, até que em 2005 morre a minha mãe”, recorda com dor. “Foi algo muito pesado de suportar, via o meu pai triste todas as manhãs, chorando escondido para nós não o vermos, durante anos não consegui lidar com a ausência da minha mãe, mas tive de continuar a viver.”

Em 2008 chega à cidade para viver com o tio André Bunga e frequenta a 5ª classe porque na aldeia não havia 5ª nem 6ª classe. “O meu pai não queria que eu viesse para a cidade e eu disse-lhe :”Pai não posso permanecer aqui na aldeia, quero realizar o meu sonho de ser jornalista de rádio.” O pai resistiu mas acabou por autorizá-lo a ir para a cidade viver com o tio, irmão da mãe.

“Foi difícil adaptar-me, eu vinha da zona rural, gostava de caçar e pescar e isso criava-me dificuldades.”

Em 2009 começa a interessar-se pelo kuduro. “Escrevia letras e ensaiava para um dia gravar uma música, o desejo e a dedicação eram enormes”.

O tio põe-no numa oficina para aprender bate-chapas, mas ele queria era costurar roupas. “Começaram a dizer-me que este era trabalho para deficientes físicos”. Vai para a oficina de bate-chapas, mas como não era a profissão dos seus sonhos, desiste, ainda por cima passava todo o dia a trabalhar e a escola ficava para trás.

“O kuduro tomou conta de mim, todas as letras que escrevia eram bem aceites, mas estive até 2012 sem gravar sequer uma música por causa das dificuldades financeiras”, recorda. “Neste ano ouvi pela primeira vez falar da versificação e como compor um poema, o professor de Língua Portuguesa na altura, Augusto Tomás, mandou-nos uma tarefa onde cada aluno tinha de escrever um poema e eu escrevi um com o tema “A menina”.

Quando chegou o dia da aula, cada um recitou o seu poema e na minha vez os colegas ficaram admirados com a minha vocação e o professor pediu-me para continuar mesmo que não estudasse Língua Portuguesa.

Miguel Mpanzo Sebastião escreve, desde 2012, poemas, contos, romances e crónicas. “Em 2016 comecei a levar a vida literária mais a sério, eu não gostava muito de aparecer em público para recitar poemas, os meus amigos chamavam-me Poeta do Facebook, porque é no Facebook onde publico e publicava os poemas.

Um dia, foi convidado para o Movimento Lev’Arte Núcleo do Uige, aceitou e no dia 27 de Março de 2016 recita o seu primeiro poema “Não me perguntes porque sou assim” em público.

Nesse ano não estudou. “Estávamos a passar muitas dificuldades, o meu tio não tinha dinheiro para eu tirar cursos.”

Em 2017 passa no teste de aptidão para Biologia, e é neste ano que vai à rádio pela primeira vez, foi bem aceite e levou a sua poética ainda mais a sério. No ano seguinte volta à Rádio Uige. “Foi o momento mais brilhante como poeta, as ligações foram muitas, muitos queriam-me conhecer, conheci pessoas muito interessantes da cultura do Uige.”

As dificuldades não o fizeram parar, continuou a escrever e a gravar poemas.

Em 2021 ganha um prémio internacional pelo Projecto Chá de Vida do Brasil, com a nota máxima, 30. Nesse ano é seleccionado para o concurso Top 10 dos Melhores Poetas Declamadores a nível nacional, ficando na 3ª posição da competição.

“Em Agosto lancei “Os que comiam iam-se embora”, um conto que relata vários problemas da nossa sociedade, as minhas vivências e também as de muita gente, eu sinto-me diferente, muito persistente e focado no mundo literário.”

O sonho de Miguel Mpanzo Sebastião é chegar à televisão, ele tem centenas de poemas escritos, agora está a escrever um romance e três contos. “A minha verdadeira inspiração literária vem do Rãs Nguimba Ngola, recentemente comecei a ler uma escritora brasileira, Zíbia Gasparetto, que se tornou também minha fonte de alimentação literária.

“Sou um cidadão preocupado com a sociedade e artista capaz de ajudar as mentes da nossa população.” Ainda este ano Miguel Mpanzo Sebastião pretende gravar o videoclipe do poema “Bairros de Latas”.

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