Morreu músico angolano Waldemar Bastos

O músico angolano Waldemar Bastos morreu esta madrugada em Lisboa, vítima de cancro, aos 66 anos, após um ano em tratamento. Personalidades angolanas e da cultura do mundo lusófono expressaram o seu voto de pesar.

A informação foi avançada pelo gabinete de comunicação do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente de Angola. Nascido na província de M’Banza Kongo, o cantor angolano, galardoado com o prémio de New Artist of the Year nos World Music Awards em 1999, estava em tratamentos oncológicos há um ano, referiu a tutela angolana esta segunda-feira (10.08).

Várias reações se têm manifestado ao longo do dia em homenagem ao cantor, que foi sempre crítico e frontal, considerado um verdadeiro africano e um dos mais exímios representantes e defensores da música angolana, de acordo com os testemunhos recolhidos pela DW em Lisboa.

“Waldemar Bastos deixa um legado muito importante”, afirma Luandino de Carvalho, Adido Cultural da Embaixada de Angola em Portugal.  “Traduziu com muita qualidade a nossa angolanidade; a forma como traduzia nas músicas as emoções, os sentimentos, era de uma elevação muito atenta, muito profissional e com muita qualidade”.

“Ele tem que ser, de todas as formas, divulgado, cantado e respeitado com sentimento pelas gerações presentes e futuras”, acrescenta o diplomata em alusão ao músico distinguido em 2018 pelo Estado angolano com o Prémio Nacional de Cultura e Artes.

Perda irreparável

“É uma perda irreparável a morte de Waldemar Bastos”, lamenta o músico angolano, Paulo Flores. “Uma notícia muito triste que nos apanha a todos desprevenidos”, adianta.

“E acho que o que tem de ser celebrado aqui é, de facto, a estética musical, a integridade, a honestidade intelectual e a forma como, durante tantos anos de carreira, nunca perdeu os seus princípios e naquilo em que acreditava. A pureza das suas composições, das suas melodias, desde cedo nos ajudaram a encontrar uma identidade angolana que ainda procurar definir completamente”, diz Paulo Flores.

Para o conterrâneo, Waldemar Bastos é uma das vozes eternas da “identidade e da musicalidade angolanas”, cuja obra deve ser homenageada e reconhecida.

“Nos próximos anos, com certeza, veremos essa homenagem e esse redimensionamento da sua obra e do significado que ela tem para nós enquanto Nação. Que descanse em paz. Com certeza um agradecimento muito profundo por toda a emoção, por toda a partilha da sua arte e da sua sensibilidade”.

“Guerreiro, irmão e amigo”

General D, rapper natural de Moçambique, considera Waldemar Bastos “um guerreiro, um irmão e um amigo,colega de trabalho e de luta, que nos ensinou todos a marchar, que nos ensinou a todos a dizer aquilo que era para ser dito”.

“É uma perda muito grande para todos nós. Fiquei super chocado quando ouvi a notícia”, acrescenta o rapper moçambicano.

General D reconhece que Waldemar Bastos foi sempre uma inspiração para todos os da sua geração.

Nunca se deixou comprar pelo regime

“Era um dread a sério, muito amigo dos seus amigos”, afirma Eldmir Barreto Faria, promotor cultural bastante ligado ao mundo lusófono em Portugal.

Para Barreto, o músico angolano “era uma [das] pessoa[s] que nunca se deixou comprar pelo regime de [José Eduardo dos Santos] ‘Zédu do MPLA'”.

“Ele era uma pessoa muito séria, muito crente, ao ponto de deixar tocar com os amigos num sábado à noite porque no outro dia tinha que ir à igreja. Waldemar era assim, era uma pessoa que discutia qualquer assunto com alma. É um homem que respeitava muito a cultura angolana, em particular, e africana, em geral. Era, de facto, um homem africano, um homem do mundo. Perdemos um amigo, um bom homem. Tenho imensa pena”, exalta Barreto Faria.

Menschenrechtler Marcos MavungoWaldemar Bastos (centro) com os ativistas Luaty Beirão (esq.) e Marcos Mavungo (dir.) em Lisboa

Muitas outras personalidades da cultura do mundo lusófono expressaram o seu voto de pesar e consternação pelo desaparecimento físico do cantor angolano.

Vida marcante  

Waldemar Bastos nasceu a 4 de janeiro de 1954, em Angola, na então cidade de São Salvador do Congo, atual M’banza Congo, Angola, e é considerado um dos maiores vultos da música angolana. Foi uma das vozes frontais e mais respeitadas da música de Angola, também conhecido pelas suas canções de intervenção, entre as quais “A Velha Chica” e “Sofrimento”.

Novo Jornal, dirigido pelo jornalista angolano Armindo Laureano, considera o músico um “cidadão do mundo”, pela sua carreira que ganhou projeção internacional. Em 1999, foi galardoado com o prémio New Artist of the Year nos World Music Awards.

Waldemar Bastos, que a DW África entrevistou por várias vezes, foi, em 2014, uma das presenças nas comemorações dos 25 anos da queda do Muro de Berlim, a convite da chanceler alemã, Angela Merkel. Entre outros feitos, foi também convidado a cantar no Panteão Nacional, em Portugal, na cerimónia de transladação do corpo da fadista portuguesa, Amália Rodrigues, sua amiga e fã.

Em Portugal, onde vivia há já vários anos, Waldemar Bastos destacou-se “pela sua participação em diversos espetáculos e pela defesa intransigente da música de Angola, onde se revelou como um dos mais exímios representantes”, como refere um comunicado da Embaixada de Angola na capital portuguesa, divulgado esta segunda-feira.

Numa mensagem endereçada à família de Waldemar Bastos, a embaixada angolana em Lisboa refere que “as artes e a cultura angolanas estão de luto, pelo desaparecimento de um dos seus mais notáveis representantes de projeção internacional, cujo legado permanecerá com destaque no acervo da música nacional”.

O funeral do músico ainda não tem data marcada.

Fonte: DW

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