O Comité Central da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), um dos três movimentos que lutaram pela independência do país nas décadas de 60 e 70, decidiu hoje suspender o presidente do partido, Lucas Ngonda.
A informação foi confirmada à Lusa por fonte daquele partido histórico angolano, representado na Assembleia Nacional, alegando os membros do Comité Central “desvios graves da linha política” da FNLA, nomeando interinamente para aquelas funções Fernando Pedro Gomes.
Em declarações à Lusa, em Luanda, o presidente interino justificou o afastamento de Lucas Ngonda com a necessidade de “salvaguardar os interesses superiores do partido”.
“A forma como o partido estava a ser gerido, como está a ser gerido, é insustentável, uma vez que o presidente pouco ou nada faz para a unidade interna. Ele é a base da discórdia no partido e por isso mesmo o Comité Central tomou estas medidas”, disse Fernando Pedro Gomes.
A Lusa tentou recolher uma reação de Lucas Ngonda, mas sem sucesso até ao momento.
Além da FNLA, a luta de libertação do poder colonial português envolveu ainda o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), de Agostinho Neto, no poder desde a independência, em 1975, e a União Nacional para a Independência Total de Angola, de Jonas Savimbi, hoje o maior partido da oposição.
Além de presidente da FNLA, Lucas Ngonda é também um dos dois deputados eleitos pelo partido à Assembleia Nacional, acontecendo esta suspensão a cerca de seis meses das próximas eleições gerais em Angola.
O partido ainda terá de realizar um congresso eletivo e só depois é que poderá preparar as listas candidatas às eleições de agosto.
“Estatutariamente [a realização do congresso] não pode ultrapassar os três meses. Como as eleições estão apertadas, nós nem sequer queremos esperar esses três meses e vamos ver se fazemos o congresso num prazo máximo de dois meses”, disse ainda o presidente interino da FNLA, que admite candidatar-se à liderança.
“Naturalmente. Sempre lutei pela unidade do partido e é preciso consolidar esta decisão e a unidade interna. O partido não pode viver de querelas em querelas”, disse ainda, assumindo que ainda vai “ponderar” sobre a sua candidatura nas eleições internas, que podem acontecer a 29 e 30 de abril.
Conhecido como o partido “dos irmãos”, a FNLA foi fundada em 1961 pelo histórico líder angolano Holden Roberto, mas há vários anos que vive mergulhada na crise interna, tendo garantido pouco mais de 1% dos votos nas eleições gerais de 2012.
Lucas Ngonda foi confirmado presidente da FNLA em 2012, pelo Tribunal Constitucional, depois de divergências com ala liderada por Ngola Kabango,
Lucas Ngonda, que no dia 11 de novembro de 1975 proclamou a independência de Angola na província do Uíge, no norte do país, ao lado de Ngola Kabango, na altura ministro do Interior, e hoje seu principal opositor no partido, assumiu numa recente entrevista à Lusa que a FNLA é a força política com o maior número de antigos combatentes, mas a maioria sem pensão do Estado.
Já o presidente interino, Fernando Pedro Gomes, confirmou que está em contactos com todas as alas do partido para garantir uma reunificação interna.
“Temos estado envolvidos em negociações para a unidade do partido, trabalhando juntos com todas as sensibilidades políticas que existem no partido. E naturalmente que este trabalho também pesou para a decisão do Comité Central”, concluiu.
Lucas Ngonda tinha sido eleito para um novo mandato no quarto congresso ordinário da FNLA, que decorreu em 2015 em Viana, nos arredores de Luanda, e que então ficou marcado, logo no primeiro dia, por confrontos entre militantes destas duas alas do partido que provocaram um morto e 14 feridos.
Via Lusa
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