O migrante africano no Brasil e o preconceito brasileiro sobre a África

Por Justes Axel Samba Tomba

Resumo: O Brasil é um país formado pela imigração europeia, africana forçada e asiática desde 1500. É um país da velha tradição migratória. Hoje por várias causas, muitos migrantes Africanos vêm aqui. Estes últimos, apesar de serem protegidos contra a xenofobia, a homofobia por nova lei aprovada no senado em Abril de 2017, os imigrantes Africanos são alvos dos diferentes preconceitos geográficos até políticos apresentados sub forma das perguntas curiosas preconcebidas. Isto mostra a visão etnocêntrica e eurocêntrica dos muitos brasileiros sobre a África. Um olhar desagradável e fictício apoiado pela mídia, que é
totalmente diferente da realidade africana.

Introdução:

O mundo de hoje é marcado por vários movimentos cotidianos, periódicos, temporários que fazem a ligação entre países, continentes, povos de várias tradições, vários modos de vida. Esses movimentos têm várias causas, sejam distantes, imediatas de natureza econômicas, sociais, humanitárias, acadêmicas, e outras. Então entre esses movimentos, há a migração que tornou-se um movimento cotidiano no qual vários povos mudam de um lugar de partida para outro lugar de acolhimento; sobretudo lugares de acolhimento que já tem uma velha tradição migratória cujo Brasil faz parte.

O Brasil é um dos países do mundo tendo uma forte taxa de imigração e emigração das pessoas. Falando da imigração, o Brasil é um dos países alvos da imigração africana. Muitos Africanos vêm aqui por muitos motivos. Mas os Africanos, chegando aqui, acham outra realidade, diferente do que eles ouvem no exterior do Brasil. Entre outras essas realidades, há o preconceito brasileiro sobre a África. Então, diante desse dilema, a questão é: Quais são os tipos dos preconceitos que o Brasileiro tem sobre a África, vendo um migrante Africano aqui? Vamos responder detalhadamente a essa questão pertinente nas linhas seguintes do desenvolvimento deste artigo, começando para falar do histórico da imigração e da legislação anterior e atual relativa à imigração no Brasil, em seguida dos preconceitos brasileiros sobre a África, pensados através dos sujeitos imigrantes Africanos presentes no país sul americano.

I-Desenvolvimento.

O território geográfico em formato de um país continente que se denomina “Brasil” foi visitado ou “descoberto” (verbo historicamente usado) pelo navegador português Pedro Cabral em 1500, que naquela época foi povoado pelos Índios. Esse território foi chamado de “Vera Cruz” em homenagem à Cruz do Cristo, símbolo da coroa portuguesa. Esse nome foi bem breve. Mais tarde, esse território foi nomeado “Brasil”, nome fazendo alusão ao tipo de madeira ou árvore vista aqui chamada “pau Brasil”. Mas há também uma outra versão histórica mais endógena e menos conhecida do nome “Brasil”, que diz que esse nome vem da
palavra da língua da tribo indígena Tupi Guarani: “Baratil” que significa Terra da Luz.

A nova terra foi também um lugar da exploração e produção dos recursos naturais para Portugal. Por isso, a coroa portuguesa escravizou os Índios para trabalhar nas fazendas de cana-de-açúcar e no desmatamento da floresta para criar um primeiro espaço que pôde servir de centro da administração colonial. Mas logo, uma boa parte dos Índios foi exterminada pelo trabalho servil e pelas doenças. É preciso dizer que os portugueses reproduziram o sistema aplicado pelos espanhóis nas suas colônias que era: o Soba e o Amo. Nesse sistema, os sobas eram os chefes Índios, que tiveram um supervisor que eram amos. Estes últimos eramportugueses, comerciantes ou missionários.

Diante dessa sistema da exploração dos Índios, Bartolomé de Las Casas (1474-1566), missionário Dominicano espanhol, historiador, que teve o apelido de “Apóstolo dos Índios” e que trabalhava nas Américas, tendo também escravizados índios, e vendo esse sofrimento dos ndios tanto nas colônias espanholas, tanto na colônia portuguesa do Brasil, decidiu falar ao tribunal real da Espanha a favor dos Índios. Na sua demanda ele pediu para substituir os Índios totalmente por Negros Africanos, que segundo ele, eram mais fortes nas obras.

Portanto a escravidão indígena foi “abolida” em 15421 após aguardar muitos anos. É preciso notar também que, naquele momento que o padre espanhol pediu essa abolição da escravidão indígena, o tráfico negreiro já existiu nas Américas há muito tempo. Assim a medida de Las Casas foi fortalecer ou dobrar o tráfico Negreiro para as Américas.

A partir daí, o comércio Transatlântico que começou oficialmente (no sentido de visível ao público Kongo sem clandestinidade) para as Américas no poderoso Reino do Kongo Dia Ntotila e vassalos cujo vassalo do reino de Ndongo (Angola) na África Central em 15012 , acelerou. Daí seu apogeu a partir de 1520, o que transformou o Kongo e vassalos, em maior e principal fornecedor dos escravizados da toda África. Aliás, nas outras regiões de África, o comércio Transatlântico já começou para as Américas cujo Brasil.

É o início da primeira imigração forçada histórica dos Africanos para o Brasil e também primeiros imigrantes, após portugueses e holandeses. A diferença é que, estes dois últimos eram imigrantes voluntários por motivos econômicos enquanto negreiros e colonizadores. Durante quatro séculos (XVI-XIX), o Brasil foi povoado pelos Africanos de diferentes tradições e modos de vida para trabalhar nas fazendas e minas. Nesse comércio Transatlântico, o Brasil foi o principal exportador dos escravizados Africanos sobretudo Bantus de África Central. O que fez do Brasil, um lugar onde os Negros eram predominantes
numericamente que os Brancos e Índios.

Após a independência em 1822 e a abolição da escravidão em 1888, o Brasil era um país maioritariamente Negro. O medo dos descendentes das famílias escravistas portuguesas de ser absorvidas pela miscigenação afrodescendentes e as causas eurocêntricos e racistas, motivaram políticos dos anos 30 e 40 do século XX, a desenvolver a política pseudo científica da branquitude da população chamada “Eugenismo” que acelerou a imigração europeia e asiática (nomeadamente japonesa) e impediu a imigração africana.

Do ponto de vista cronológico, é a segunda fase da imigração europeia, pois a primeira foi dos negreiros e colonizadores portugueses e holandeses. Então, a partir daqueles anos 30 e 40, a segunda etapa da imigração começou para o Brasil. Entendemos que trata-se de uma imigração europeia e asiática, que era desenvolvida ao detrimento da imigração africana como mencionada anteriormente. Assim, o Brasil formouse historicamente por 3 tipos de imigração: europeia escravista, colonizadora, africana forçada, as ambas históricas do século XVI até século XIX, que são a matriz da sociedade brasileira incluindo a matriz indígena, e a terceira imigração também europeia em grande parte e asiática do século XX.

Portanto, vemos claramente que, o Brasil é o cruzamento de várias tradições. É um país da velha tradição migratória, até que uma legislação discriminatória relativa a imigração possa ser promulgada. Falando do histórico da legislação migratória, começamos a falar da primeira lei que foi promulgada no período da ditadura militar até às leis atuais. Com efeito, durante o período do regime Militar de João Figueiredo, no dia 19 de agosto de 1980 foi promulgada uma lei chamada de “Estatuto do Estrangeiro” (Lei 6815/1980). Esta lei discriminatória teve uma perspectiva de que, o imigrante é uma ameaça à segurança nacional e essa lei considerava a tratar o tema sob a perspectiva dos direitos humanos. O Estatuto do Estrangeiro era anacrônico. Esta lei foi em vigor até abril do ano 2017. Apesar dessa lei, o Brasil via o Conselho Nacional de Imigração (CNlg) aprovou várias resoluções para regular as concessões do visto aos estrangeiros e suas condições do trabalho.

Aliás, para tentar manter a garantia dos direitos humanos e proteger refugiados, o Brasil assinou algumas convenções internacionais como a Convenção sobre o Estatuto do Refugiado de 1951 e no Protocolo Adicional de 1967. Em 2013, a Nova Lei foi proposta pela Câmara dos Deputados no Projeto de Lei do Senado (PLS 288/2013) para substituir o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6815/1980). A proposta já havia sido aprovada em 2015 pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa
Nacional (CRE) em decisão terminativa e remetida à Câmara dos Deputados.

Em dezembro de 2016, um substitutivo da Câmara (SCD 7/2016) ao texto original do senador licenciado Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) foi aprovado e retornou para a análise do Senado. E no dia 18 de Abril de 2017, o Senado aprovou o projeto da nova Lei de Migração que define os direitos e os deveres do migrante e do visitante no Brasil; regula a entrada e a permanência de estrangeiros; e estabelece normas de proteção ao brasileiro no exterior.

Então podemos entender que do ponto de vista jurídico, o imigrante em geral e o imigrante Africano em particular é protegido contra a xenofobia, o racismo. Mas exceto desse campo jurídico garantido, o migrante Africano no Brasil, é o sujeito de vários preconceitos através seu continente, quase todos os dias nos lugares que ele está. Esses preconceitos são de origens geográfica, social, econômica e política. A medida em que esses preconceitos se desenvolvam, os mais sensíveis, vulneráveis como mulheres crianças africanas, deixam sobre elas, estigmas, criando duas identidades: real e virtual4 ou imaginária sobre a África através dos imigrantes Africanos presentes no Brasil.

Esses preconceitos brasileiros são, como disse o antropólogo Magnani um olhar de “longe e de fora” sobre a África, tendo só uma visão midiática, às vezes errada, falsa, do que o brasileiro vê na televisão, na internet, nos jornais, sem tentar confrontar a realidade buscandoa com a conversa sincera com nativos Africanos que estão aqui no Brasil ou mesmo lendo fontes seguras, cientificas.

Falando do primeiro tipo do preconceito que é geográfico; quando o brasileiro, sobretudo neste caso o Carioca e o Fluminense (habitante do interior do estado do Rio de Janeiro) encontram um Africano com um sotaque diferente de português brasileiro, as três primeiras perguntas incomodas alternativas é seguinte: “você é de onde?” Ou seja “Você é angolano?” ou “você é português?”.

Geralmente a segunda pergunta é dita combinada com a primeira. A terceira é feita quando o imigrante Africano tem um sotaque puxado de “x” como ele mesmo o Carioca e Fluminense, mas com um sotaque bem próximo ao Portugal, após que o imigrante Africano responda à primeira pergunta: “não sou”. Ou às vezes, a segunda pergunta torna-se a primeira e a primeira torna-se a segunda. Mas a terceira é sempre a última optativa do locutor brasileiro.

Essas três perguntas são canções, entrevistas cotidianas que o imigrante Africano responde por dia ou por semana, sobretudo no seus primeiros meses de chegada no Brasil,  pois ele ainda tem um sotaque bem forte do seu país. E às vezes, o imigrante Africano responde a essas perguntas muitas vezes por dia, e isso acaba de cansar.

Esse comportamento das perguntas geográficas antecipadas sobre o único país Africano que existe na cabeça de muitos brasileiros, é um verdadeiro preconceito geográfico e uma amostra de ignorância alta sobre o conhecimento geográfico do continente Africano por parte do brasileiro preconceituoso. Que seja um adulto, um adolescente, um idoso, uma boa parte dessa categoria do brasileiro tem os mesmos pensamentos sobre a África e o imigrante Africano.

Então, quando examinamos esse preconceito, achamos três aspectos do psíquico do brasileiro:

* Parece que todas as pessoas falando português, que seja brasileiro de qualquer cor, tem o mesmo sotaque que outros brasileiros, ou seja parece que todo angolano ou português ou outro lusófono tem o mesmo sotaque que todos os habitantes do seu país; * Parece que o único país Africano que existe é Angola ou seja África é sinônimo de Angola em forma de República Federal e que outros países são estados ou províncias de Angola; * Parece que todo Negro tendo sotaque diferente do brasileiro é de fato, um Africano ou um estrangeiro.

Então, diante dessas observações, nós podemos entender claramente que essa categoria do brasileiro preconceituoso ignora totalmente a geografia de um continente que fica ao outro lado do Atlântico Sul. Sobretudo um continente que tem uma ligação forte histórica que povoou durante quatros séculos o Brasil e deu a matriz do primeiro desenvolvimento brasileiro. Nessa perspectiva, isso mostra que o brasileiro preconceituoso ignora mesmo sua própria história, pois já na história da escravização, se fala das diferentes regiões africanas que envolveram-se nesse comércio, embora que África Central incluindo Angola foram os mais ativos nesse comércio. Isto é perigoso que um povo ignore sua própria história para aprender tudo da Europa, só da Europa.

Podemos entender que, segundo a mente dessas pessoas preconceituosas, existe uma unicidade psíquica, linguística e cultural dos brasileiros ou dos africanos que pertencem nos diferentes países, como pensavam os Antropólogos do evolucionismo social que são Tylor, Morgan e Frazer. Isto é, totalmente ter um pensamento inadequado com a realidade do mundo. A terra desde sua autocriação (estamos na perspectiva científica e não bíblica) há bilhões dos anos e
desde a aparição do homem (sempre na mesma perspectiva) há 7 milhões de anos, tomando   em conta o resto do esqueleto meio australopitecos, mais velho do mundo, denominado Toumai descoberto no deserto de Chade na África Central, existe sempre a diversidade das culturas, tradições, costumes entre vários grupos do mesmo lugar ou dos lugares diferentes. E mesmo dentro do mesmo grupo, não há uma uniformidade das características físicas e psíquicas, mesmo os gémeos não têm a mesma voz.

Então, podemos entender que o sotaque não é único em um país, sobretudo um país continente como o Brasil (sabemos que o brasileiro já sabe essa diversidade dos sotaques do seu país), e não há também uma uniformidade dos sotaques das pessoas lusófonas oriundas de outros países que seja africanos ou outros. É preciso ressaltar que, o estrangeiro que se naturalizou brasileiro ou seja um brasileiro nasceu e cresceu no exterior do país não vai ter o sotaque totalmente idêntico que o brasileiro nascido no Brasil. E isto tem que ser tomado em conta para entender que, todo brasileiro não tem o mesmo sotaque.

Já disse um dia a um amigo, daqui 10 ou 20 anos, uma boa parte dos brasileiros fluminenses e cariocas nativos vai ter um sotaque diferente do brasileiro atual, pois os futuros brasileiros serão dos pais estrangeiros e que terão uma língua materna na casa, diferente de português. Essa mudança do sotaque vai ser possível por causa da entrada maciça dos refugiados e outros estrangeiros no estado do Rio de Janeiro, como já se aconteceu com a presença japonesa em São Paulo. Pois o estado do Rio de Janeiro que é a segunda principal porta de entrada no território nacional, ficando atrás apenas de São Paulo.

Devemos que, o essencial é a comunicação entre pessoas e não o sotaque; incentivamos, nisso, pois o Fluminense e Carioca preocupam-se do sotaque mesmo entre eles os brasileiros. Existe uma forma de regionalismo forte no Brasil, cada brasileiro em frente de um brasileiro diferente do seu sotaque, procura identificar o sotaque e o estado.

No meu país a República do Congo ou Congo Brazzaville, existem 12 departamentos (equivalentes dos estados aqui no Brasil). Quando um Congolês de norte vai ao sul do Congo Brazzaville, não importa do seu sotaque, o Congolês do sul não vai tentar identificar o sotaque, o departamento do interlocutor. Enquanto existem vários sotaques lá no Congo, o que mais importante é saber o conteúdo da linguagem, se estiver claro ou não. É uma verdadeira prova de não interesse do brasileiro a não olhar África e ter mais preconceitos naturalmente na lógica dessa perspectiva.

O segundo tipo do preconceito é social sobre os imigrantes Africanos no Brasil. Cada vez que um brasileiro encontre um imigrante africano, após saber do país do migrante, a primeira ideia e outras perguntas que ele faz: “Lá na África tem pobreza, fome né, é difícil né?”, “O que te levou para estudar aqui? “Porque só aqui”, e continua afirmando como se ele já estivesse na África: “Lá na sua terra, os estudos não são bons, as condições não são boas para estudar né!”. Esses tipos de perguntas e afirmações vêm diretamente das mídias que mostram a África, em uma só dimensão da pobreza, fome, um continente atrasado onde as universidades ainda não existem. Essa imagem de África da época colonial que a sociedade brasileira formada no etnocentrismo mostra aos seus filhos e filhas Afrodescendentes para poder impedir eles de voltar lá e visitar.

Uma categoria dos brasileiros estão com esses preconceitos, sem verificar. Eles tomam isso em conta, como se fosse uma verdade absoluta, uma realidade. Na cabeça dos alguns brasileiros, o fato de que o africano venha por aqui para estudar, é prova de que, no seu país não há infraestruturas adequadas para estudar.
Pessoalmente, rebatia esses preconceitos, desmontando todos esses preconceitos, provando que no meu país, as coisas eram diferentes do que eles os preconceituosos pensavam.

Esse tipo dos brasileiros esquecem totalmente que existem entre países do mundo, intercâmbios, estágios internacionais e outros tratados comuns. Mais uma prova de ignorância dessa categoria. Há também nessa pergunta, outra dimensão da xenofobia, depende da maneira que a pessoa pergunta. Quando a pergunta é “porque só o Brasil?” é uma maneira para dizer, há outros países que o imigrante africano possa ir, como se a vontade de viajar no mundo para estudar,
fosse querer comprar um pão na feira onde a pessoa pode ir a qualquer lugar onde se vende o pão. Eles (esses tipos dos brasileiros preconceituosos) esquecem também que a escolha de um país para estudar depende do curso e de outras perspectivas, como a língua para lusófonos africanos ou conhecer outra língua e cultura para francófonos e anglófonos. Como no meu caso, minha presença por aqui no Brasil, foi por causa da minha pesquisa sobre o Candomblé Congo Angola para poder fazer a pesquisa de campo afim de apreender o assunto com nativos, e meu desejo também para conhecer a cultura brasileira. Esse preconceito social vai até na dimensão de saber se o imigrante Africano aluno quiser instalar-se aqui no Brasil definitivamente, após estudar ou quiser voltar na sua terra.
Aqui, podemos ver uma maneira para julgar a resposta do Africano afim de saber indiretamente a condição do seu país (no sentido negativo), no caso de uma resposta positiva de morar aqui após estudar. Pois o preconceituoso já disse-se que, se ele (o imigrante Africano) quiser instalar-se definitivamente no Brasil, isso quer dizer que no seu país, não tem oportunidades do trabalho, é a pobreza, uma lógica das ideias totalmente imaginária e irracional. Ora, o preconceituoso esquece que existem pessoas com visão internacionalistas que gostam de ficar longe da terra natal sem causa social no seu país de origem. Todo brasileiro que mora no exterior do país, não é que ele não conseguiu achar emprego aqui, às vezes, foi o desejo de descobrir outro mundo, diferente de seu.

O que observamos é que, muitos brasileiros não gostam de sair do país para hospedar muito tempo ou morar. Uma boa parte dos brasileiros só gosta de hospedar pouco tempo no exterior e voltar, seja por estudos, turismo. Causa principal desse retorno ao Brasil é conhecida de todos: a saudade de família e do país.
Entendemos esse comportamento brasileiro da sua caraterística do “Homem Cordial”, que fala Sérgio Buarque de Holanda, no capítulo V do seu livro. Segundo o autor, essa caraterística significa o comportamento brasileiro que já acostumou-se com o ambiente familiar; comportamento vindo das origens ibéricas que gera negócios do Estado, como se fosse um bem da família. Pois o brasileiro na sua raízes lusa-africanas-indígenas, é agarrado à família. Esta expressão é de Ribeiro Couto que a usava para descrever o espírito hospitaleiro dos Sul Americanos; expressão que Sérgio Buarque de Holanda usou em um outro sentido. De repente com esse comportamento, é difícil ficar longe do país definitivamente e voltar só para visitar os familiares, como fazem expatriados africanos, asiáticos, norte-americanos,etc….

Aliás, há o preconceito econômico. O imigrante Africano no Brasil é um entrevistado cotidiano sobre perguntas de todo domínio da vida do seu país, como se fosse um embaixador africano como tal no Brasil. Sobre esse preconceito, a pergunta regular é: “Lá na sua terra, o salário mínimo é de quanto?”, “É mais alto que o daqui?” “A economia é baseada só na agricultura e pecuária né?”.

Fazer uma comparação entre salários básicos de um funcionário africano e brasileiro, pensamos que em primeiro lugar, não tem uma lógica, na medida em que os países africanos têm políticas econômicas diferentes do Brasil. Em segundo lugar, fazer uma tal comparação é uma maneira indireta para julgar e procurar o melhor país e elogiar, afim de frustrar ou humilhar outro. Isto é incongruente e desumano.

Eu sempre falo aos meus amigos brasileiros que tudo em um país não pode ser ótimo ou péssimo, existem coisas ruins e boas. Mesmo nos países ditos desenvolvidos, sempre há falhas econômicas, sociais que eles não querem mostrar na televisão e nas redes sociais.

Em seguida, querer determinar recursos naturais principais dos países Africanos na Agricultura e pecuária, é querer diminuir o nível do desenvolvimento tecnológico, material desses países e também fazer alusão à imagem mostrada na televisão que já falei anteriormente, de uma África ainda “natural” ou ‘‘primitiva’’: sem exploração humana para dominar a natureza, um continente estático, sem avanço. Esse preconceito econômico é a consequência do preconceito social. Daí a famosa frase das mídias: “Na África, só fome, pobreza, subdesenvolvimento”.

Esse preconceito econômico mostra, uma vez mais, o desconhecimento total da África no Brasil, por várias causas. Esse preconceito deu a luz ao preconceito político, que vamos falar nas linhas seguintes. O preconceito político é essa crença, conhecimento falso dos alguns brasileiros que acham que a África é um verdadeiro terreno das guerrilhas, rebeliões, motins, ditaduras, crises políticas intermináveis. Isto é a imagem geral que uma parte dos brasileiros têm sobre a
política Africana.

Eu me lembro de uma pergunta que me foi feita por uma senhora: “Lá na sua terra, tudo tá bem? Não têm guerras que te levaram para estudar para cá?’’.
Eu respondi: “Não, meu país tá em paz total, a guerra é uma história antiga, como a maioria dos países já viveram no seu passado. Cheguei aqui no âmbito de intercâmbio”. Ela perguntou de novo: “É um país democrático, não tem a ditadura na África, como a gente ouve aqui?”, eu disse-lhe: “são preconceitos que vocês entendem aqui, meu país é democrático como o Brasil. Para outros países africanos, não são em todos os países que estão na ditadura, há em alguns, mas não são muitos países. No mundo inteiro é assim, é como aqui nas Américas, ainda há algumas ditaduras em alguns países”.

Antes de analisar essas perguntas, eu quero esclarecer sobre a lógica das minhas respostas ligando realidades de África com o resto do mundo, para mostrar que, o que pode  acontecer-se nos alguns países africanos, se acontecem também em outros países, sem distinção. É uma forma de mostrar que a África não é um mundo a parte, que tem seus fantasmas como algumas pessoas acham aqui no Brasil. Essas respostas tiveram como objetivo colocar o Brasil e América Latina no mesmo patamar que a África, na realidade social.

Então para analisar essas perguntas, entendemos que muitos brasileiros confundem os refugiados africanos ou sírios ou os de outros países que vêm aqui na busca de asilo com migrantes Africanos alunos. Eles acham que todo Africano é um refugiado político. Outra análise é que eles acham que todos os países Africanos estão nas guerras intermináveis, enquanto a realidade é diferente.

Além disso, acham que as ditaduras da época dos partidos únicos de obediência marxista-leninista, que existiram no mesmo período que aqui na América Latina nos países como Nicarágua, Argentina, e outros países, ainda não acabaram lá. Como se fosse uma África estática, como dissemos anteriormente. É totalmente absurdo e ignorante, que hoje com a internet, viagens ao redor do mundo de várias pessoas, essa categoria dos brasileiros não podem pesquisar sobre a África.
Enquanto, quando nós olhamos bem as realidades do passado político de África são as mesmas da América Latina no mesmo período até a entrar na democracia liberal ou pluralismo político.

Hoje, muitos presidentes africanos das Repúblicas viajam por aqui, à exceção de algumas das figuras que perduram ao poder, muitos deles são novos, são presidentes eleitos democraticamente. Mais uma vez, esse preconceito político é uma verdadeira prova de falta de atenção da política exterior do Brasil por partes de alguns brasileiros.

O Brasil é um país formado por várias correntes migratórias, isso quer dizer que a migração fez o Brasil e o Brasil é fruto de migração. É a história. Os migrantes Africanos não são oportunistas, invasores como muitos acham. São pessoas que estão aqui temporalmente fazendo formação ou fazer comércio ou fazer outras coisas. O migrante Africano é um agente do desenvolvimento, pois hoje o Brasil sonhando ser uma potência, precisa das várias competências para poder desenvolver-se como fazem outros países do mundo.

Cada povo no mundo inteiro tem seu preconceito sobre uma cultura que é diferente da sua. É o etnocentrismo que fala Levy Strauss no seu texto. Isso é sociológico e cultural de ter uma reserva sobre outra cultura. Mas esse etnocentrismo que vemos em cada homem, não pode ser fundado sobre toda a região específica, sobre todo o continente inteiro ou todo o grupo humano, habitantes de um continente. Contudo do que trata-se dos preconceitos brasileiros sobre o imigrante Africano e África, é todo um continente inteiro que é alvo dos preconceitos, sem distinção dos países, regiões, costumes, como se África fosse um bloco
homogêneo. E eles acham que todos os migrantes Africanos chegando aqui têm as mesmas motivações pretendidas serem motivos sociais, econômicas, políticas. É isto, que é totalmente absurdo a entender; como todos os Africanos podem sair de diferentes países por mesmas causas?

Isto mostra claramente o olhar negativo, pessimista, ignorante, fechado e preconceituoso já enraizado na cabeça de alguns brasileiros colocando a África em um
estágio de desenvolvimento estático, sem progresso. Essa imagem falsa refletida pela mídia. Isso mostra a visão etnocêntrica do Brasil. Na medida em que no pensamento de muitos brasileiros preconceituosos, eles acham que tudo que vem da Europa é lindo, positivo. Segunda essa visão eurocêntrica: todos os países europeus são desenvolvidos, não existe pobreza, nem miséria, nem ditadura. Enquanto há vários países europeus são piores economicamente que outros países Africanos sobretudo na Europa de leste, onde ainda há a ditadura.

Um país como o Brasil que tem a segunda maior população Preta do mundo após a Nigéria, que mesmo o Congo Brazzaville, país que fica no coração de África (África Central), não tem esse número dos Negros, (o Brasil) no seu conjunto deveria ser mais tolerante, relativista em relação com a África, pois a história contemporânea africana a partir dos séculos da escravidão mistura-se, confunde-se com esta do Brasil e não etnocêntrico. Portanto fácil de entender algumas realidades africanas, que sobretudo os dois continentes (África-América Latina) são pertos geograficamente. Sabemos que todo mundo não pode ser
relativista, isto é natural. Mas a maioria dos brasileiros deveria ser relativista em referência à história (no sentido do curso ou de modo de vida) africana. Ao contrário, esses brasileiros preconceituosos são mais relativistas aos povos que estão longe deles historicamente e mesmo geograficamente como a Oceania, e outros povos distantes.

Outra observação é que, esses preconceitos sobre o migrante Africano, são paradoxais, eles estão aí, mas não são percebidos diretamente. Portanto se o migrante
Africano não presta atenção, ele pode achar que são só jogos de perguntas-respostas, curiosidades, mas no fundo são verdadeiros preconceitos dissimulados sob perguntas pretendidas de curiosidades.

Da mesma maneira que essa categoria dos brasileiros preconceituosos acham que alguns estados brasileiros sobretudo as dos nordeste são ‘muitos’ atrasados, lugares não confortáveis para morar, nem pelos menos para estudar ou trabalhar, e que muitos originários daqueles estados emigram para outros sobretudo do sudeste e do sul, é da mesma maneira que eles concebem a África.

Essa visão do preconceito dessas pessoas é uma expressão de limites, ignorância e também de confusão total do conceito do “desenvolvimento”, do padrão do desenvolvimento. Pois para eles, o desenvolvimento é ter prédios altos, substituir florestas por casas, as estradas gigantescas, empresas internacionais; em resumo, o desenvolvimento é ‘copiar’ totalmente as realidades europeias para ‘colar’ em um país.

Ora o desenvolvimento, para mim é antes de tudo endógeno, há coisas que podem ser tomadas no exterior do país, mas há outras que não precisam ser copiadas do exterior, pois não teria a importância. Por exemplo, querer copiar e construir as centrais nucleares para substituir as barragens eléctricas na África ou no Brasil não faz sentido, pois a África e o Brasil já têm grandes rios que podem dar energia que a Europa não tem. Outro exemplo, construir prédios altos para abrigar garagens aéreas na cidade de Búzios no estado do Rio de Janeiro, pois isso foi visto na cidade de Toulouse na França, não é adequado do ponto de visto do espaço, pois Búzios ainda tem grandes espaços a explorar que vai permitir construir garagens baixas no chão mesmo. E do ponto de vista econômico, a
cidade de Búzios tem menos carros e habitantes para pretender construir garagens aéreas nos prédios altos, e ela tem outras prioridades que Toulouse, que é já uma cidade povoada.

Assim, construir essas garagens aéreas no Búzios, torna-se uma malversação do dinheiro. Não devemos copiar o modo de vida dos outros para adaptar em nosso modo de vida no prazer de copiar para ser só como outro. Mas devemos se completar e ver a necessidade de copiar outro. Tudo isso mostra que o preconceituoso vive em um universo de “esquizofrenia” do outro, que ele acha superior, melhor que ele, outro que tem tudo de perfeccionismo.

O Africano desenvolve-se segundo um modelo endógeno e de abertura: tradição e inovação. Os países Africanos vivem assim, não se consideram superiores ou inferiores aos outros continentes, eles fazem tudo a priori com um olhar local. Portanto todo o migrante Africano no Brasil não é miserável, e que toda a África não é subdesenvolvida como os preconceituosos acham. Só pessoas com um olhar profundo ou uma análise séria sobre a África podem compreender isso.

Conclusão:

Se precisar reconhecer em toda minha honestidade, que o povo brasileiro no seu conjunto é hospitaleiro, é preciso ressaltar que uma parte dos mesmos hospitaleiros após mostrar sua alegria, tornam-se ‘‘verdadeiros jornalistas entrevistadores’’ dos migrantes Africanos.

Geralmente, essas perguntas preconcebidas fazem-se após o acolhimento. Eu aproveito deste artigo para dizer que o migrante africano tendo o sotaque diferente no Brasil, não é sempre Angolano ou um português, pois a África tem 55 países, e que o sotaque não é uma uniformidade em si mesmo em um país, isto quer dizer que mesmo dois Africanos do mesmo país podem ter sotaques diferentes, pois o sotaque forma-se do maneira que a família criou a criança a falar, há também fatores de línguas maternas. Mesmo um Africano francófono naturalizado brasileiro há muito tempo, pode ter ou não ter o sotaque igual ao
nativo brasileiro, o que é o essencial, é a comunicação compreensível. Outro ponto a dizer, é que todo o migrante Africano não é um refugiado político, ou um migrante econômico-social.

Uma grande comunidade Africana sobretudo jovem que está no Brasil, são alunos de diversas categorias: intercâmbio, desejo próprio de estudar aqui, estágios, etc…. A África é um continente como todos outros continentes tendo seus avanços e seus problemas. É isto que é a lógica realista.

 

 

 

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