O Papa Inoncêncio X tinha a cabeça e a coroa do Rei Vita a Kanga como troféu !

Por Baptista António (*)

 

 

 

 

 

Você sabia que o Papa Inocêncio X tinha a cabeça e a coroa do Rei Vita a Nkanga (do Reino do Kôngo) como troféu ? Também sabias que o Rei Vita a Nkanga foi o primeiro rei da história de Angola a travar uma dupla batalha (política e religiosa), contra as entidades colónias Portuguesas e contra os missionários Capuchinhos ?

Vita a Nkanga Kinlaza foi filho do antigo Rei do Kongo Nkanga a Lukeni, conhecido por D.Garcia II.Vita a Nkanga sucedeu seu pai no ano de 1661 (após a morte do grande Rei Nkanga a Lukeni). Ou melhor, em 1661 falece o velho Rei Nkanga a Lukeni (D.GarciaII). Sucede-lhe o seu filho D.António I (Vita-a-Nkanga Kinlaza).

O rei Vita Subiu ao trono como vencedor de uma feroz luta interna envolvendo vários pretendentes ao título supremo, cada um apoiado pelo seu clã. Mal o pai faleceu, o rapaz mostrou-se digno da reputação do defunto. O jovem Rei era um sucessor desprovido da experiência e levado pela força de sua juventude. Embora fosse inconstitucional, essa sucessão não pareceu ter beneficiado os missionários e as entidades colónias “políticas2 PORTUGUESA . Uma das razões foi o facto de Vita A Nkanga (Don António I) ter sido um grande contestatário das actividades dos missionários e das entidades colónias nos assuntos públicos do Kôngo.

Por isso, muito rápidamente os missionários orquestraram contra a sua eleição, alegando que ele pretendia expulsar todos os Europeus do Kôngo junto com sua cultura política e religião. Foi essa a informação que chegou aos ouvidos de Vidal de Negreiros, governador de Luwânda (nomeado em Lisboa), contornada pelo monarca ao disponibilizar recursos materiais (armas, etc,) e humanos (trabalhadores, soldados, missionários, etc).

Vita A Nkanga herdou um reino mui forte militarmente. Após a última tentativa fracassada dos portugueses de impor a sua lei no Reino, ele tinha vislumbrado nessa fraqueza a possibilidade de acesso a uma das primeiras manifestações de levar a cabo o sonho da independência do Kôngo sob o julgo Português e missionárico. Chegou a hora de resgatar todos os vexames com que os inimigos tinham feito afronta ao meu pai, pensou, decididamente.Enfurecido, apontou o dedo para os missionários e as entidades colónias, e deu-lhes a entender que a sua presença não era desejada no seu Reino.

Tudo começou quando o exército português tinha ordem para ir ocupar “ilegalmente” algumas minas situadas no outeiro do Embo. Seguida por Kazua Ngongo (Pango Aluquém) em direcção às terras do Dembo, Don Francisco Sebastião, e dai, atravessando o rio Dande, caminharia entre Mbanza Nbwila (Ambuila), onde se informaria sobre a situação do outeiro do Embo. O Rei do Kôngo Vita a Nkanga negava pois a existência de minas no seu reinado, cobiçadas pelos Tugas. E, peremptoriamente, respondia : Posto que as houvera, não as devo a nenhum! Seja quem for! Quem tentasse pisar o meu território, sairá nele morto. Ou eu morrerei por ela.

Surge assim a primeira crise entre as entidades colónias e missionáricas para com o povo Kôngo. A guerra foi declarada. Vidal de Negreiros preparou o seu exército para o combate e, na expectativa de ver o se nome inserido nas páginas de ouro da história, Vita a Nkanga jovem Rei, lançou um apelo ao patriotismo para responder a mobilização geral dos seus súbditos com uma inflamação proclamada…. que toda a pessoa capaz de poder menear armas ofensivas se vai alistar para sair a defender as nossas terras, fazendas, filhos e mulheres, e nossas próprias vidas e liberdades, de que a nação portuguesa e missionárica se quer empossar e senhorear.

Vita a Nkanga enviara dois embaixadores a Ndembu, a D. Isabella, regente do Sobado em virtude de Ndembu ser demasiado tenro de idade para assumir os encargos do governo das suas terras. Prendeu os dois embaixadores e entregou-os aos dirigentes de Luwânda. Furioso, o Rei Vita a Nkanga apelou solenemente os Kongueses à guerra, não só contra o invasor português e as entidades missionárias, mas também contra a traiçoeira regente do Ndembu.

A Batalha de Mbwila (Ambuila)

Caminhava o exército do Rei do Kôngo ao encontro das tropas portuguesas, no dia 29 de Outubro de 1665, pelas nove de manhã, nas terras de Mbanza Mbwila (Ambuila). Eram mais de 100.000 homens armados sob o comando do Rei Vita a Nkanga. Na verdade, era o princípio da sangria humana. Assim, nasceu a guerra que havia levado os Kongueses a uma página dourada da história Angolana e não só. No âmbito da batalha, a poderosa linha que avançava, envolta em nuvens de poeira, desenhava já de longe um movimento envolvente das tropas portuguesas, de larga envergadura.

Guiando e impulsionando essa massa humana, vinha o próprio Rei, cuja figura alta e forte, se desatava majestosamente acima das guerreiras. O quadrado português consegue manter-se organizado e vai resistindo as sucessivas vagas “granizando balas e centelhando fado”. O próprio rei, enfurecido e na ânsia de querer vencer atira-se à luta. A luta iniciara-se de desigual, e segundo os ditos desse tempo, o Rei do Kôngo, ao divisar ao longe tão reduzida hoste inimiga enojou-se” de ter que ser ele próprio a trucidá-la, tanto mais que atrás dele seguiram homens idosos, mulheres e mesmo crianças, num total de cerca de 150.000 pessoas, com carga de mantimentos, roupas, armas e tudo o mais para servir de apoio às tropas da frente do combate.

Os homens comandados pelos duques de Mbamba e de Mpemba, ao assalto das posições Inimigas, de facto “carnes para canhão”, pois o outro lado estavam preparados para ripostar a uma prematura investida. Ripostaram os morteiros e as espingardas, saltaram dos flancos os arqueiros, vieram os cavalos a terreiro e as forças avançadas do Kôngo foram rapidamente desbaratadas. Os dois Duques ficaram por ali.

Na retaguarda estavam mais uns 80.000 soldados do Rei, a espera. Não era tão fácil vencer o inimigo, reparou o Rei Vita a Nkanga que avançava em força sem refletir. Jovem Rei fiava-se assim numa cena da primeira investida, com uma herda cegada de soldados, a correrem para uma armadilha com fome de verem o Kôngo longe do julgo português e das vestes missionáricas. O jovem Rei decidiu envolver-se diretamente na batalha, e para dar ânimo as suas tropas.

Diz a história que foi ai onde o jovem Rei Vita a Nkanga perdeu o seu bem mais precioso (a vida). A sua coragem redundou e caiu por terra fulminado. Em volta dele, na confusão da regra, desenha-se um agitado de remoinho de corpos em luta e mal feridos por balas perdidas. O Rei então se batia heroicamente em defesa do Reino, ou do sonho da tão almejada independência, converge, por instinto, o fogo do quadrado.

Diz a história que um dos soldados das forças inimigas (colónias) empunhando catana, cortou a cabeça do corpo inanimado do Rei Vita a Nkanga e espetou-a na ponta de uma lança. Com a morte prematura do Rei alguns soldados da realeza Kôngo e acompanhantes de guerra decidiram então recuar, dando assim o abandono total a essa sangrenta e memorável guerra. Ou seja, sanguinária ferocidade. Mas antes o jovem Rei Vita a Nkanga levou muitos portugueses e forças aliadas aos portugueses, missionários e padres consigo à morte.

A cabeça do rei Vita a Nkanga e a sua coroa como troféu da guerra dos católicos

Diz a história que a cabeça do rei Vita a Nkanga esteve sob tutela do Papa InocêncioX . Outros relatos históricos nos dizem que o Papa Inocêncio X havia oferecido a cabeça do rei com sua coroa ao Rei Garcia II. Na verdade o que teria sido feito com a cabeça do Rei Vita a Nkanga (tombado na Batalha de Mbwila) foi além daquilo que se perspectivava.

No fundo não era só uma batalha política e religiosa que estava em jogo. Estava envolvida no seio disso tudo a honra, poder colonial e missionárico sob o povo Kôngo e não só. Segundo algumas fontes, o capitão Lopes Serqueira, havia mandado salgar a cabeça do rei decapitado, meteu-a num cofre forrado de veludo negro e despachou-a para Luwânda (hoje Luanda), com um luzido acompanhado, sob a chefia do capitão Pegado da Ponta. Vinha também a coroa do desditoso monarca, oferecido pelo Papa Inocêncio X, por frei Francisco de#Roma feita de ponta dourada com pedreira; e um bordão forrado de veludo com pregaria de prata forrada de veludo, no remate um castelo com imagens de Santos, e um barrete que lhe cobria a cabeça, tecido de fio de ouro e prata.

O singular troféu chegou no dia 5 de Dezembro de 1665, meteram-no num cofre forrado de carmesim, envolvido exteriormente de tecido ornado de renda dourada e prateada, que foi depositado na igreja da Misericórdia. Fizeram-lhe o ofício solene, e durante toda a noite dobraram os sinos, em sinal de sentimento de vitória conquistada.

Segundo alguns relatos históricos : Os padres tentaram o converter ao Cristianismo mesmo morte, ou se, usando a cabeça do Rei Vita a Nkanga. Nessa altura, foi considerado como uma relíquia da casa de misericórdia. Contra factos não pode existir argumentos ; no fundo era o maior troféu que o Vaticano almejara. Visto o rei ser alguém totalmente contra os missionários ou cristianismo no seio Konguês, e automaticamente contra as entidades colónias.A pergunta que não querer se calar. A onde foi parar a cabeça junto com a coroa do Rei “Vita a Nkanga” ?É uma questão que muitos acreditam estar sob segredo do Vaticano.

Bibliografia

Patricio Batsikama – Makela ma Zombo.
Antonio Seita – historia do Reino do Kôngo.
Mena Abrantes – Kimpa Vita ardente na fogueira.

(*) Organizou e escreveu Baptista Antonio, historiador de formação.

Comentário

2 Comments

  1. Pela fontes que eu li, o papa Inocencio X morreu em 7 de janeiro ou 14 de janeiro de 1655, então não poderia ter recebido o “presente”. Gostaria de saber que fim realmente se deram ao cetro, coroa e a cabeça do rei Vita a Nkanga

    • A coroa teria sido enviada de volta ao Vaticano. Porém na escala do navio em Pernambuco, Brasil a mesma foi roubada sem deixar rastros. A coroa era feita de latão mas o gatuno pensou que se apoderava de uma coroa com considerável peso de ouro. Informação obtida no livro do Laurentino Gomes, escravidão, página 206.

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