O percurso político da família Dialó/Lumengo na luta de Libertação Nacional

Ricardo Lumengo no Parlamento Suiço
Ricardo Lumengo, nasce a 22 de Fevereiro de 1962, em Lussenga, Município de Maquela do Zombo. Filho de Miguel Simão Dialo e de Nsimba Paulina (em Kikongo Miguel quer dizer “Mingiedi”), o nome de família Dialo foi muitas vezes escrito como “Dialó ou “Dialot” ou ainda “Dialló.

O pai de Ricardo Lumengo, foi um activo combatente na luta de libertação de Angola, contra o colonialismo português, tendo ocupado vários cargos de chefia, entre os quais o de Director Político do PDA (Partido Democrático de Angola).

A determinado momento da luta de libertação nacional, contra o colonialismo português (integração do PDA, na UPA, dando origem a nova sigla, FNLA), o pai de Ricardo Lumengo foi obrigado a deixar a família em Angola e a refugiar-se no antigo Congo/Zaire hoje RDC (República Democrática do Congo), para evitar ser preso pelas forças coloniais da epoca, a PIDE (polícia política portuguesa), continuando a partir do exterior, a luta de libertação de Angola, num contexto mais amplo (como quadro executivo). Inicialmente Presidente da JUPA/JFNLA (Juventude da União dos Povos de Angola, ou Juventude da Frente Nacional de Libertação de Angola) e depois como Vice-Presidente do MDIA.

– Para corrigir a sua conotação tribal, a UPA transformou-se em Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) em Março de 1962, integrando o PDA. Pouco depois constituiu o Governo Revolucionário de Angola no Exílio (GRAE), que no fim de 1963, tinha sido reconhecido pela OUA e por 32 países. Em conclusão, a UPA, ao ser a primeira organização a iniciar as hostilidades em grande escala, mobilizando milhares de seguidores, acabou por conseguir grande apoio internacional, desde os Estados Unidos até vários países africanos.

–  See MDIA, “Petition du Mouvement de Défense des Intêréts de l’Angola presentée à la commission de tutelle de la dix septième assemblée générale de l’Organisation des Nations Unies (ONU)” (New York, Nov. 28, 1962).
-Referência: John Marcum, The Angolan Revolution, Volume I: “The anatomy of an explosion” (1950-1962) e Volume II: “Exile politics and Guerrilla warfare” (1962-1976).Ricardo Lumengo viveu em Lussenga e Maquela de Zombo de 1962 a 1966. As suas lembranças dessa época sobre Lussenga e arredores são mínimas, todavia as lembranças de sua casa e dos seus avós persistem. Não chegou a frequentar a escola primária da época.
 
Em 1966 Ricardo Lumengo foi obrigado a partir com a mãe e irmãs (na altura só tinha irmãs) para o campo de refugiados angolanos e também base militar de Kinkuzu (no antigo Congo/Zaire), onde o seu pai tinha sido detido, era membro da UPA/FNLA (Uinião dos Povos de Angola/Frente Nacional de Libertação de Angola) e tinha sido detido por ordem do Presidente Holden Roberto, por ter protestado abertamente, contra a política autoritária, tribalista e ethnocêntrica de Holden Roberto, em relação às outras tribos e etnias angolanas, que participavam também como membros da UPA/FNLA, na luta de libertação, mas que não eram originários da zona de Mbanza Kongo, nomeadamente os Bazombos (Bakongos originários da Província do Uige).

– John Marcum Volumes I e II (acima referido) e alguns jornais da época publicados no antigo Congo/Zaire.
Kinkuzu é um nome sinistro, pois está ligado não apenas ao nome de base militar central da UPA/FNLA, ou como campo de refugiados que saíam de Angola, que fugiam há repressão colonial portuguesa; mas sobretudo porque era a prisão política, onde eram detidos os angolanos que se opunham à presidência de Holden Roberto.
 
Ricardo Lumengo, lembra-se ainda de Emanuel Lamvu Norma, que mais tarde passou a ser o responsável pela informação, como principal animador em Kikongo no programa da Radio “Angola combatente”, uma emissão do MPLA que passava na rádio da República Popular do Congo (Congo Brazzaville). Depois da independência, Emanuel Norma ocupou váras funções de responsabilidade, entre as quais a de membro do Comité Central do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola).
Emanuel Norma, tinha sido na época, companheiro de seu pai, na celula desta prisão de Kinkuzu, tendo conseguido evadir-se e juntar-se ao MPLA. A família e Ricardo Lumengo, ficaram em Kinkuzu, durante todo o tempo de detenção do seu pai, de 1966 a 1973, com um estatuto especial o de “filho de prisioneiro político”!

Ricardo Lumengo, fez a escola primária e liceu, practicamente dentro do campo de prisioneiros de Kinkuzu. As aulas eram dadas em português, Kikongo e francês. Em 1973, Ricardo Lumengo saiu do campo de prisioneiros, de Kinkuzu, aproveitando uma amnistia feita por parte de Holden Roberto. A seguir o pai de Ricardo Lumengo, também foi libertado e novamente integrado na direcçâo da UPA/FNLA (em circunstâncias e condições pouco claras). 
A família Dialó/Lumengo, permaneceu exilada no antigo Congo/Zaire, enquanto seu pai em 1974, seguiu para Luanda como membro da FNLA, para participar na abertura da delegação da FNLA e nas várias tarefas do Governo de Transição, para a independência de Angola.Em 1976, a família toda regressa a Angola. Em Luanda Ricardo frequenta a escola de segundo nível “Juventude e Luta”, em Luanda. O processo do seu ingresso como membro da JMPLA, teve lugar no quadro da escola Juventude e Luta.

Depois, Ricardo Lumengo passou a pertencer à secção da JMPLA do bairro Samba-Grande que era o seu Bairro de residência e onde ainda hoje residem os seus pais e restante família.
O ingresso de Ricardo na JMPLA explicou-se como uma reacção contra o sistema e as orientações da FNLA em que tinha vivído no tempo da luta da Libertação Nacional. Dentro da JMPLA, Ricardo Lumengo descobriu a mensagem de igualidade, da unidade nacional e da tolerância éthnica e racial para todos angolanos.
Por seu lado, o pai de Ricardo, Miguel Simão Dialo, também tinha-se afastado da FNLA, ainda antes de regressar a Angola, devido aos confrontos políticos e militares, durante a fase de tansição para a independência de Angola, mas continuou sempre como um dos grandes defensores da cultura e dos valores dos bakongos.
Não é por acaso que o pai de Ricardo Lumengo, continua a ser muito conhecido no meio dos Bakongos, em todo país.Em 1982 em consequência de críticas permanentes e sérias ameaças provenientes de alguns membros da FNLA, dirigidos a Ricardo Lumengo e membros da sua família, por causa do seu ingresso e das suas actividades no seio da JMPLA e por outro lado também por causa da reacção de alguns membros do MPLA, encontrando-se no meio de um fogo cruzado, Ricardo Lumengo toma a decisão mais díficil da sua vida, o de abandonar o País e assim evitar represálias, com risco de vida, aos membros da sua família.
Apesar da carreira política feita na Suiça, Ricardo Lumengo nunca deixou de ser membro da JMPLA (MPLA), tanto é que, isso se explica pela sua orientaçâo política, sendo sempre dominado por um grande elemento social e humanitário. Além disso nunca pertenceu a nenhuma outra formaçâo política angolana. Manteve-se sempre fiel a si mesmo e aos seus princípios.É necessário acrescentar que Ricardo Lumengo sempre que possível, e na qualidade de membro do Partido Socialista Suiço e de deputado do Palamento Nacional Suiço, sempre defendeu os interesses de Angola a nível bilateral com a Suiça, ou ainda a nível das Relações Internacionais.

Com a experiência política profunda, adquirida na Suiça, Ricardo Lumengo considera ter chegado o momento de disponibilizar os seus conhecimentos, contribuìndo assim para a prosperidade do seu País, do seu povo e do seu partido. Assim um regresso definitivo ao seu País de origem, não está excluìdo de todo.

                
                                                    wpf298127f_0f-copie-1.jpg                                     Guerrilheiros do ELNA, na Base do Kinkuzu
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