O REINO DO KONGO E SEUS VISINHOS

 

A parte ocidental da África Central, ao Sul das florestas equatoriais, é habitada por povos falantes de dialetos da língua kikongo e de línguas estreitamente aparentadas.

Tal unidade linguística encontra­‑se reforçada por uma profunda unidade cultural. Esse grupo etnolinguístico ocupa um território que se estende do Gabão meridional ao planalto de Benguela e do Oceano Atlântico até muito além do Rio Cuango. No Nordeste, esse complexo sempre beirou uma área teke centrada nos planaltos bateke e, no Sul, uma área ovimbundu no planalto de Benguela. A história dessa região está bem documentada a partir do século XVI.

No que concerne o período de 1500 a 1800, estima­‑se em mais de meio milhão o número de páginas escritas na época contemporânea, número este nunca alcançado para qualquer outra parte do continente de tamanho comparável.

Desde mais de um século, inúmeros textos e guias foram publicados, ao passo que uma escola historiográfica se desenvolveu desde o século XVII.

Nos séculos XVI e XVII, o movimento histórico dessas terras foi muito diferente do que se tornaria depois. De fato, foi nessa época que o homem organizou os grandes espaços e utilizou estruturas políticas para formar Estados.

Porém, após cerca de 1665, esses espaços foram reorganizados pelo homem em um escala ainda maior (os Estados tornando­‑se menos importantes) em virtude dos imperativos de uma estrutura econômica particular, procedente do tráfico intensivo de escravos. Por isso abordaremos os primeiros séculos privilegiando a história dos reinos. Apenas nos debruçaremos sobre o comércio de escravos a partir do momento em que a dinâmica deste começou a provocar o declínio de tais reinos.

As potencialidades dessas regiões são condicionadas pela orografia e pelo regime de chuvas. As terras férteis encontram­‑se nos vales cuja estação seca é de curta duração. Porém, essa estação varia de dois a seis meses segundo a latitude e o afastamento da costa, esta última sendo mais seca.

O caráter geralmente montanhoso dos territórios explica o fato de a população, em sua busca de um habitat melhor, ter sido desigualmente repartida, regiões povoadas, do tamanho de um pequeno distrito ou de um centro provincial, alternadas com desertos.

A região mais favorecida pela diversidade dos ambientes situava­‑se Ao Norte do Rio Zaire/Congo, a partir da costa até a região chamada de Mayombe. Ademais, ali se encontravam interessantes jazidas minerais (cobre, chumbo, ferro).

Foi aí que nasceram os dois maiores Estados da costa: os reinos do Congo e do Loango.

Desde pelos menos 400 a.C., agricultores falantes de línguas bantas ocidentais estavam instalados Ao Norte e ao Sul do baixo Zaire, ali cultivando inhames, legumes e palmeiras. Entre os séculos II e V, tal povoamento foi reforçado pela chegada, pelo Leste, de comunidades falantes de línguas bantas orientais.

Essas comunidades cultivavam cereais e criavam bovinos onde a mosca tsé­‑tsé o permitia, principalmente em Angola. Antes dessa chegada, a metalurgia do ferro penetrara na região a partir do ano 100, ou talvez mais cedo. Por fim, a cultura da banana veio completar o sistema de produção, talvez no decorrer do século VI.

Desde então, as organizações sociopolíticas tornaram­‑se mais complexas, e chefias formaram­‑se entre o oceano e o rio, a montante do Pool.

Foi na zona mais rica, Ao Norte do baixo Zaire, na região de Mayombe, que a divisão do trabalho regional foi a mais avançada. Por volta de 1500, os habitantes da costa forneciam o sal e o peixe e haviam convertido a planície costeira de Loango, nos arredores do estuário do Zaire, em um imenso palmeiral produzindo óleo de palma.

O Reino do Congo teve origem na chefia vungu, Ao Norte do rio. Nessa época, chefias, pequenos reinos e conglomerados de chefias cobriam todo o país rio abaixo, tanto ao Norte quanto ao Sul. O pai do Reino do Congo, Nimi Lukeni, fundou Mbanza Kongo na localização atual de São Salvador e seu reino constituiu­‑se tanto por aliança com o chefe local, o kabunga, e com o rei que, mais ao Leste, dirigia o Mbata, no vale do Inkisi, quanto pela conquista de outros territórios rumo ao mar e ao baixo vale do Inkisi.

… Continua!

Fonte: História Da África volume V

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