O SIGNIFICADO DE BATER AS PALMAS NAS CERIMÓNIAS TRADICIONAIS

Por João Niango Ngombo Kina 

Por que os Bakongo batem três vezes as mãos antes de falarem em uma cerimônia tradicional?

Antes de começar a narrativa, permita-me, caríssimo leitor, dizer-lhe que nenhuma cerimônia tradicional Bakongo acontece sem as três palmas e os provérbios. Esses dois elementos estão intrinsecamente ligados.

O SIGNIFICADO DAS TRÊS PALMAS NA CULTURA BAKONGO.

As três palmas representam, na verdade, a simbologia do respeito na cultura Bakongo.

1° A primeira palma é para pedir permissão ou licença a todos que se fazem presentes na cerimónia.
2° A segunda palma tem a ver com a autorização da palavra.
3° A terceira palma indica que o indivíduo tem a palavra.

Resumindo em palavras miúdas: “Primeiro, peço licença. Segundo, concedam-me a palavra. Terceiro, autorização concedida ou não, para falar sobre tal assunto de importância capital.”

DEPOIS DE BATER TRÊS VEZES AS MÃOS, O QUE ACONTECE?

Após o indivíduo bater três vezes as mãos, as primeiras palavras que devem sair da boca da pessoa que toma a palavra são, primordialmente, um provérbio sábio, enraizado na cultura Kongo. Em seguida, ele expressa sua opinião sobre o assunto em questão.

POR QUE PRIMEIRO ALGUÉM DEVE USAR UM PROVÉRBIO SÁBIO ANTES DE COMEÇAR A FALAR SOBRE O ASSUNTO EM QUESTÃO?

Ora bem. Para a cultura Bakongo, os provérbios acabam por ser, na verdade, expressões elípticas, geralmente metafóricas, que refletem a cultura popular Bakongo e a sabedoria, assim como a experiência da vida, servindo como testemunhos autênticos da cultura ou sociedade Mukongo. Eles encapsulam ideias, sentimentos e normas de conduta, transmitindo-se ao longo das gerações.

Embora amplamente conhecidos, seu uso profundo ocorre em situações que exigem argumentação ou justificação, contribuindo para sustentar pontos de vista, contrapor-se a outros ou buscar consensos. Assim, embora presentes nas conversas cotidianas ou em eventos tradicionais, seu emprego pleno geralmente ocorre em contextos mais significativos.

Portanto, em nenhum momento pode haver qualquer cerimônia, seja festiva, fúnebre etc, sem a presença da sabedoria proveniente dos provérbios, conhecida em Kikongo por INGANA.

FINALIZANDO: “Em cada batida, uma reverência aos presentes, uma súplica à autoridade das palavras e o reconhecimento do direito de expressão. Assim, antes de iniciar o discurso, honramos os antepassados, pedimos licença aos vivos e nos comprometemos com a verdade e a integridade. Pois, como dizem os sábios, em cada provérbio reside uma lição, e em cada palavra, a alma de nossa comunidade.”

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