Ricky Mavuba “Ndoki a Ndombe”, o famoso muzombo de V.Club e dos Leopardos do Zaire

Por Sebastião Kupessa

António do Nascimento Mafuila MAVUBA, mais conhecido por Ricky Mavuba (Mafuila ku Mbundu). Foi filho de angolanos no exílio na RDC, os seus pais eram naturais de Kibokolo, município do Zombo.

Ricky foi um meio campista da equipa de VITA-Club de Kinshasa que ganhou a liga dos campeões africanos em 1973, sagrou-se campeão africano no CAN em 1974 com a Selecção do Zaire, fez parte da mesma Selecção denominada os Leopardos do Zaire que foi a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha Federal. Naquela Selecção jogaram 2 angolanos, sendo o outro Dieningama, mais tarde jogou do Sporting de Luanda ( Diabos verdes, Leões de Luanda).

O início da carreira de Mavuba

Aos 15 e 17 anos, Ricky Mavuba joga nos terrenos de Mbanza Velela e Missioni na Comuna de Makala, também consta a sua prestação no VEA do Foyer em Dendale (hoje Kasavubu) onde jogou com Permós, La Verité e Mbabu Zumbel. Já naquela época (1964-1968), a multidão desses jogos ao ar livre, o apelidou de Larousse, como se fosse um homem de um diccionário, um estudioso e um grande conhecedor do futebol.

Em 1968, aos 19 anos, estreou-se no Vita Club, na primeira divisão da cidade de Kinshasa, como meio-atacante no sistema 4-2-4. No meio do campo, Mavuba encontra Kibonge Gento, a grande estrela de Kinshasa e Diantela, um internacional quase no final de sua carreira.

Especialista em cobrança de penaltis e virtuoso na contra-ofensiva, Ricky Mavuba destaca-se por seus dribles em elegância, seus passes escovados e seus cantos, as vezes acabam nas redes adversárias, donde será alcunhado de Ndoki ya Ndombe (Mago Negro) pelos fãs dos Golfinhos Negros (Daufins Noirs, outro nome do V.Club).

Em 1970, quando Kibonge passou a ser o craque número 10 e Diantela relegou-se para segundo plano, Ricky Mavuba e Maufranc Mambwene começaram a impor-se no meio do campo do V Club.

Em Maio de 1971, Mavuba e V. Club jogaram pela primeira vêz a Liga dos Campeões Africanos (antigamente Taça dos clubes campeões) contra o Canon Sportif de Yaounde (2-0, 1-3). Sua equipa é eliminada nos penaltis em Yaounde, nos Camarões.

Em 26 de Dezembro de 1971, em Kananga (província de Kasai), Mavuba e Vita Club ganham o Campeonato Nacional do Congo contra os anfitrões do Renaissance Tshipepele (2-0), golos de Gary Ngasebe e Jean Kembo.

Mas, devido a um atraso na designação da equipa representativa congolesa na Taça dos Campeões Africanos, Ricky Mavuba e Vita Club só puderam disputar a Liga Africana de Clubes no ano 1973.

Na meia-final da Liga dos Campeões, eles eliminam os camaroneses dos Leopardos de Douala onde evoluía um certo Roger Milla, então um jovem de 21 anos (3-0,1-3). Na final, disputada no dia 16 de Dezembro de 1973, em Kinshasa, Vita Club vence os Ghaneens de Kotoko de Kumashi.

No estádio du 20 Mai em Kinshasa (agora Stade Tata Raphael), a defesa dos Ghanenses de Kotoko manteve-se firme no 1º tempo (0-0), depois desabou no segundo período, sob uma ofensiva excessiva liderada por Kibonge Gento, Ricky Mavuba, Kondi e Lobilo Boba alcunhado de “Docta” (um libero de alta classe). Pontuação final: 3-0,  dois golos de Mayanga e um Jean Kembo. Na ida a equipa de Kumashi  tinha ganho por 4-2. Mavuba e Vita-Club consagram-se campeões africanos de Clubes Campeôes de África.

No mesmo ano de 1973, Mavuba estreou na equipe nacional, os Leopardos do Zaire, no dia 27 de Fevereiro de 1973, num jogo de barragem nas fases eliminatórias da Taça do Mundo de 1974, contra os “Leões Indomáveis” dos Camarões (1-0 em Yaounde, 0-1 em Kinshasa) ). Neste decisivo play-off para decidir entre as duas equipas, quem iria passar para etapa seguinte, o novo internacional Mavuba (com 23 anosde idade) e os Leopardos superam os Leões Camarões de Manga Onguene e do jovem Roger Milla (2-0). Recorda-se que, o jovem Roger Milla (20 anos) também jogou sua primeira seleção como titular, substituindo Ndongo (lesionado), na equipa dos Camarões.

Após vitórias nas últimas rodadas contra Gana e Marrocos, os Leopardos do Zaire classificaram-se para o CAN do Egito 74 e para o Mundial do mesmo ano, na Alemanha Federal, como único representante do continente africano. Uma equipa nacional, na época, inteiramente composta por jogadores amadores.

Ricky Mavuba participou naturalmente da Copa do Mundo de 1974 com o Zaire e foi coroado campeão da África das Nações no Egito (CAN 1974). Durante essa competição magna africana de futebol, Mavuba foi um dos pilares dos Leopardos do Zaire, em destaque, o seu passe decisivo que permitiu o goleador Ndaye Mulamba marcar terceiro golo dos Leopardos do Zaire contra os egípcios, nas meias-finais (Egipto 2-3 Zaire ), sinónimo de qualificação para final do CAN que vai igualmente ganhar, contra a Zámbia 2-0 no segundo jogo, depois do primeiro ter terminado num empate a dois golos.

Mavuba era um grande especialista em cantos directos semi-parabólicos. Nas meias-finais (outubro de 1975) contra o DCMP Imana, contra o Union Mbuji-Mayi em 1970 e em muitas outras ocasiões, seus cantos semi-parabólicos foram direto para as redes adversárias.

Ele mereceu o apelido de “feiticeiro” porque, na véspera de grandes partidas decisivas como contra o Lions dos Camarões em 1973, ele recebeu permissão para ir se preparar em casa, mental e psicologicamente, para não encontrar seus companheiros de equipa. apenas algumas horas antes do início. E, nos grandes jogos do Vita Club, ele sempre tinha um lenço branco visível no bolso antes de dobrar uma esquina, que ele saía e acenava após de atingir um de seus objetivos antológicos.

O regresso de Mavuba em Angola

Quando o Primeiro de Agosto foi ao Zaire  recrutar jogadores de origem angolana, veio o Tandu (ex Bilombe), Nsuka (Imana) e Mavuba (ex Vita Club) e outros que seguiram para outras equipas de futebol.

Ricky jogou no Primeiro de Agosto para depois ser emprestado aos Diabos Verdes (Leões) do Tarique do Baleizão, na altura treinados pelo argentino Mário Imbelloni. Ele era um dos jogadores do 1° de Agosto que morava com a sua família no Hotel Globo.

Exílio de Mavuba e a sua morte

Ricky Mavuba emigrou para França tendo estabelecido se em Marselha com as duas esposas e filhos. Foi de lá que Ricky Mavuba faleceu de uma doença sclerosis lateral, amyotropia,  caratcterizada portalta de comunicação entre nervos e músculos. Antes de morrer estava a sua locomoção estava muito debilitado.

Muitos diziam que era Parkinson disease. O “Vieux Ricky” andava de cadeira de rodas. Foi uma pessoa muito social no Bairro Makala onde residiu na RDC, nunca andava sozinho, sempre acompanhado por admiradores mais novos.

Ricky Mavuba foi pai de um jogador que jogou muito tempo no FC Lille da França e  pela selecção de França na copa do Mundo de 2014, trata se de Rio António Mavuba.

 

Comentário

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*


Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.