Rive Kono revela: “Ango-Stars está cheio de músicos embriagados pelo sucesso, vou concentrar-me na minha carreira solo”.

O artista angolano Manuel Zeca Kono, apresentando o seu Kimpungu-Pungu. Imagem do Youtube.

Por Sebastião Kupessa

Entre 1976 e 1983, Matadidi Mário reinou na música angolana dita revolucionária, para seguir os seus traços, muitos angolanos retornados do ex-Zaire (hoje RDC), formaram agrupamentos musicais. Alguns conheceram sucessos, como o Olympia do Simão Nsimba Diana, 1° de Maio do baixista Moke, Emulação do Nono Manuela e Pepe Pepito, Raizes de Angola, Viva la Mussule e Ango-Stars. Este último foi constituído por jovens de 15 à17 anos, com a sede na casa Wembo, no Largo Serpa Pinto na Mayanga, em Luanda. Apesar de partilhar os palcos com os conjuntos angolanos como Merengues, Inter-Palanca, os Kiezos ou Jovens do Prenda, Ango-Stars foi um agrupamento muito conhecido nos bairros periféricos de Luanda habitado maioritáriamente pelos bakongo. Os músicos desta “orquestra” liderada pelo João Maria “Djo Mali” (hoje Dersou Nzuama), fascinavam o público, porque tocavam a Rumba Congolesa com perfeição. Tempos mais tarde, a maioria dos músicos emigrou para a Europa, onde continou com a actividade musical. Descobertos por Papa Wemba, nos fins dos anos 80, este faz o Ango-Stars, o seu conjunto de acompanhamento na Europa, sobretudo na Suiça, onde contava com a colaboração do Dido Loureiro “Pacha Mikili” e Rive Kono. Muitos artistas congoleses famosos, beneficiaram o acompanhamento do Ango-Stars na Europa, como o falecido Mombele Ngantshé “Nyarkos” ou ainda Koffi Olomide. Os angolanos vão aproveitar a presença do príncipe da Rumba congolesa para produzir canções que farão sucesso como ” Dans l’Evolution et Felisance” ou “les Jeune en Vogue”. Rive Kono vai tentar a sua sorte no World Music, com o nome MC RIVE, onde produz algumas obras, em passagem, uma excelente prestação no Festival de Jazz do Montreux, antes de converter-se nos negócios, criando uma empresa especializada na reciclagem em Genebra, cidade helvética, onde reside há mais de 30 anos. Depois de longos anos de silêncio, o Rive Kono e Ango-Satrs surpreenderam-nos no passado mês de Junho, em Zuirch. Recentemente visitou Angola, onde uma importante multidão espera-o na sua decida no Aeroporto Internacional de Luanda. O Portal do Uige e da Cultura Kongo aproximou-do artista para conhecer a razão deste regresso triunfal do artista Rive Kono, que nos acolhe com optimismo, informando-nos que hoje completa 55 anos de existência. Feliz aniversário!

Muana Damba: Rive Kono, resides na Europa há mais 30 anos, acabo de assistir um vídeo, onde fostes acolhido no Aeroporto de Luanda como um príncipe, regressastes definitivamente na terra das tuas origens?

Rivé Kono: Ainda não voltei de forma definitiva em Angola, fui fazer a promoção da minha recente obra musical intitulada “Girabola” e aproveitei fazer o estudo do terreno depois de longos anos da ausência.

Já que recordas as tuas origens com nostalgia, Rive Kono é seu nome de natureza?

Não, é um nome artístico! O meu nome verdadiero é Manuel Zeca Kono.

A sua recente viagem em Angola, foi de longe ser turística, porque repetias muito com os músicos locais, tens outros projectos para além do “Girabola”?

Tenho um projecto de realizar um CD com 10 faixas, contendo 4 com o rítmo Kizomba e as restantes 6, são os antigos sucessos meus. Vou aproveitar o lançamento deste álbum com apresentação do meu grupo de Luanda.

O teu grupo é Ango-Stars…

Não. O nome do grupo leva, por enquanto, o nome do artista Rive Kono. Depois do sorteio oficial, vamos escolher o nome do conjunto com os jovens de Luanda.

Neste grupo não haverá nenhum antigo músico do Ango-Stars?

Não. Eu caminho sozinho, com Ango-Stars só vou participar como convidado.

Mas a canção dedicada ao Girabola angolano, teve a participação do Zinago de Makulusu, ele não faz parte do seu grupo?

Ele foi convidado, quer dizer ele fez Featuring comigo. No início estava previsto formar um grupo com ele, mas o meu staff aconselhou-me caminhar em solo, para evitar incompreensões, apesar de termos boas relações.

Para evitar incompreensões?

Temos que dizer a verdade ao público, a questão de Ango-Stars reside na liderânça, eu estou neste meio para reconciliar, reunir toda gente em torno de um objectivo, missão impossível, razão pela qual, os meus conselheiros, o meu staff, pensa melhor de caminhar em solitário.

Querias ser o leader do Ango-Stars, o resto do grupo te rejeitou, é por isso, abandonas o conjunto?

Não é isso. Ango-Stars nunca teve um responsável. A minha presença neste meio justifica-se para enquadrar os amigos, mas entre eles não há entendimento. O Amy Eliano atribui-se o papel de único fundador, o Dersou Nzuama, sugere que a sede do Ango-Stars seja em Paris, o que contesta o Zinago de Makulusu, que pensa que deve se situar no território Helvético. O Pacha (Dido Loureiro) só quer evoluir ao lado de mim e do Zinago e mais nada. Existe muitos problemas, é por isso decidi caminhar sozinho, como sou aconselhado. Por exempro: O Ango-Stars foi convidado em Paris para produzir espectáculo em alusão dos 40 anos da independência do nosso país, isso aconteceu no dia 10 de Novembro. O cantor Amy Eliano entrou em briga com muita gente e todo mundo em Paris, boicotou o Ango-Stars.

E o artista Zimba Bwé?

Zimba Bwé já afastou-se por causa da confusão que reina no grupo.

Mas há muito tempo, o Ango-Stars na Europa, nunca foi um conjunto coeso, o problema foi sempre da liderança?

Sim. O verdadeiro problema foi sempre da chefia. Estou muito consternado com isso, porque em conjunto formariámos uma boa equipa que iria promover a nossa cultura na Europa, todo músico iria tirar a vantagem nisso, mas o mundo da música é muito complicado. Muitos estão embriagados com o sucesso e as cabeças já não regulam bem.

Quem são o staff que te apoia na sua carreira solo?

Aqui na Europa sou aconselhado pelos jornalistas Jossart Muanza e Botowamungu. Djenga Samuel, Kuda-Kuda, Aimedo Zola e Narcise Colibri, também fazem do staff. Em Luanda conto com Emma Marcelo e Lutonadio Nyoka no Uíge, sem esquecer muitos fanáticos que vão criar, daqui há pouco, um Fan-Club para o meu apoio.

Sempre cantastes a rumba congolesa, versâo Viva la Música de Papa Wemba, com uma passagem efémera no World Music, agora cantas Semba e em língua portuguesa, esquecendo lingala. Porque essa mudança de rítmo?

Eu sou artista internacional como o velho Sam Mangwana que é, ao mesmo tempo, meu mentor. O momento chegou de explorar as minhas capacidades, porque a música não tem fronteiras. Recordo-te que formei, recentemente, um grupo em Luanda, esses jovens repetem duas vezes por semana rítmos angolanos.

E colaboras com os músicos angolanos na diáspora, como o “griot” Ango-Dontana, Paca Davis, Lulendo ou Francisco Fwala?

Sim, temos excelentes relações com Fwala desde o concerto de Zurich, gostaria conhecer artisticamente o Paca Davis e o Ango-Dontana e com todos músicos, dispostos a colaborar para promover a nossa música.

Citastes Sam-Mangwana como sendo o seu mentor, tivestes contactos com ele?

Sim, tive uma conversa construtiva com o velho Mangwana em Luanda e com o mesmo objectivo, procurei o mais-velho Bonga, encontrava-se ausente, mas pela próxima vou contactar os artistas angolanos que vivem em Angola, para ver se criamos uma parceria com os artistas angolanos na diáspora.

Ricardo Lemvo, um músico angolano que vive na diáspora, como Rivé Kono, é convidado várias vezes por ano em Angola. Como vai ser o seu caso, tomando em conta que és também, um homem de negócios, patrão de EKORECUP (Socièté d’envirovement) na Suiça?

Estás a referir como vou conciliar a minha vida profissional e artística? Estou preparado para isso. O meu filho de 30 anos de idade vai assumir o interino na minha ausência.

O teu ídolo Papa Wemba, já cantou Analengo e Okufutano, canções extraídas na cultura Tetela do Kassai, onde é originário. Porque os cantores Bazombo têm vergonha de tocar o Konono e cantar em Kikongo?

Nunca senti vergonha em cantar na língua das minhas origens nem no rítmo dos nossos antepassados que eu adoro tanto. O meu próximo álbum, consta duas canções compostas totalmente em Kikongo, com rítmo do norte de Angola. No Concerto de Ango-Stars em Zurique, cantamos “E ngeye mwana Ngola” de autoria de Dersou Nzuama , com os arranjos meus! Kikongo é minha língua.

Quando vais cantar no Uige?

Depois da saída do meu álbum, conto produzir em todas províncias de Angola sem esquecer o Uíge, especialmente na Damba e em Makela do Zombo, com a organização do Lutonádio NYOKA. Quando visitei a província do Uíge, encontrei-me com muitos artistas, a nova geração cheia de talento e estão a minha espera para produzirmos espectáculos juntos. Aproveito a ocasião para endereçar os meus sinceros agardecimentos ao Sr. Lutonadio Nyoka pelo seu apoio na minha estadia no Uige.

Para terminar, o que pensa do presente Portal dedicado ao Uíge e a sua cultura?

Felicito-vos pelo trabalho que têm feito na promoção da cultura angolana, sobre tudo da língua Kikongo e da sua história. Conto propor-vos fazer parte do meu staff, para beneficiar dos vossos conselhos sobre a nossa cultura. Meus sinceros agrdecimento pelo trabalho magnífico que realizam. Exorto-vos a continuar na mesma linha.

O pérfil

Nome: Manuel Zeca Kono “Rive Kono”

Data de nascimento: Aos 27 de Novembro de1960

Local de nascimento: Kimpasi, no Município da Damba, província do Uíge.

Nome do pai: Kitungámene Zekángama

Nome da mãe: Diazinga Maria

Manuel Zeca Kono “Rive Kono” nasceu numa família de 6 irmãos e uma irmâ. Emigirou para Europa em 1981, reside actualmente na Suiça. É empresário, proprietário da empresa EKORECUP (SOCIETE D’ENVIRONEMENT)

Rive Kono, segundo à esquerda, com Dersou e Zinago de Maculusu, em Zurich. Imagem do Muana damba.

Rive Kono, segundo à esquerda, com Dersou e Zinago de Maculusu, em Zurich. Imagem do Muana damba.

Muana Damba com Rive Kono e Dersou Nzuama.
Muana Damba com Rive Kono e Dersou Nzuama.

Muana Damba com Rive Kono e Dersou Nzuama.

O 1° 'album realizado por Viva la Musica e Papa Wemba. Na imgem da capa do disco, Rive Kono, Papa Wemba e Pacha Mikili (Dido Loureiro)

O 1° ‘album realizado por Viva la Musica e Papa Wemba. Na imgem da capa do disco, Rive Kono, Papa Wemba e Pacha Mikili (Dido Loureiro)

Comentário

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*


Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.