Viriato da Cruz: – “A contribuição dos Bakongo de Angola na independência do Congo Belga”.

Os bakongos de Angola. Imagem de José Carlos de Oliveira

Por Viriato Clemente da Cruz

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Os acontecimentos que precederam imediatamente o início da luta armada em Angola, os quais as massas angolanas tomaram parte, foram as revoltas de 4, 5, e 6 de janeiro de 1959, em Léopoldville. Durantes essas jornadas, as lojas dos comerciantes portugueses foram plihadas e distruídas principalmente por nacionalistas angolanos.

Aliás, os bakongos de Angola, ingressaram, desde 1950, na Associação dos bakongos (ABAKO), de acordo com desejos expressados nos estatutos desta organização.

No entanto, muito antes da fundação de ABAKO, muitos angolanos imigrados no Congo belga, haviam formado associações de ajuda mútua de carácter étnico. Pode ser verdade, a opinião avançada por certos, que os angolanos – talvêz por razões das suas situações de proletários e emigrantes – foram os precursores, em Léopoldville, deste tipo da associação.

Do desenvolvimento de algumas associações de bakongos de Angola, ligadas à aparição do nacionalismo no Congo Belga, nasce a União das Populações do Norte de Angola (UPNA), transformada, depois da Conferência Panafricana de Accra, em 1958, em partido da “União das Popluaçôes de Angola”(UPA).

Ao longo da luta dos congoleses para independência nacional, os bakongos de Angola, como angolanos de outras etnias, pensando que a independência do Congo, poderia contaminar Angola, para pôr o fim a dominação colonial, enviaram o produtos das suas cotizações – em milhões – nos cofres de partidos congoleses.

Milhares de angolanos militaram políticamente ao lado de congoleses.

Para os angolanos – os que habitam no país como os da emigração – a independência do Congo tinha principalmente a significação de uma irreparável brecha no aparelho do estado repressivo colonial em Angola. Com efeito, desde a independência do Congo, um número considerável de angolanos, fizeram movimento, em missões de ordem política, entre Luanda e Léopoldville.

Os eventos violentos do mês de Fevereiro de 1961, inauguraram um novo tipo da corrente migratória, a corrente grandissante de emigrantes políticos angolanos para o Congo. Os partidos políticos angolanos  que existiam em Léopoldville, instalaram alguns desses imigrantes políticos nos postos de direcção.

Ao longo desse mês de Fevereiro de 1961, muitas manifestações violentas aconteceram no Distrito do Cuanza Norte. Com efeito, os Distritos do Congo (Angola) e do Cuanza Norte, viviam em uma forte tensão. Ambos distritos são as principais regiões produtoras de café de Angola ( 80% de produção total de café, representando 39% do valor total das exportações, em 1959). Cinquenta e dois por cento (52%) do número total ( 2.012, em 1961)  de produtores de café , estão concentrados na região, apoderando-se das terras que representam 75% da superfície de terras  cafeícolas em Angola. 30% das populações dos distritos do Cuanza Norte  e do Congo (Angola), eram trabalhadores assalariados das fazendas do café, instaladas nestas regiões. Uma grande massa de expropriados, vítimas de injustíças sociais, viviam nestas localidades do norte de Angola.

Pode-se assim compreender, não sómente os motivos e força da resistência armada das massas dessa região, como também como formaram-se os laços que as uniam no combate comum para independência nacional, as massas angolanas que habitam em Angola como as que habitam no Congo.

As organizações políticas angolanas nasceram nestas duas cidades: Luanda e Léopldville.

Depois de trinta anos de actividades nas duas associações legalizadas, a maiorias dos “assimilados” de Luanda, notaram com inquietitude, que a situação económica e social piorava contíniamente. A quase totalidade da população africana de Luanda era uma massa pobre, formada de expropriados e de arruínados. Em 1955, a populaçâo europeia aumentou dozes vezes em relação ao ano de 1900, e mais de duas vezes em comparação com o ano de 1940. A concorrência dos colonos europeus transformava progressivamente, as condições económicas e sociais da maioria dos africanos urbanizados há várias gerações , ao nível de condições de camponeses emigrantes para as cidades, onde encontarava o sub-emprego, o desemprego e a insegurança.

 

As rivalidades entre trabalhadores  africanos e europeus que atiçam empresas capitalistas em Angola, contribuem a desenvolver toda a sorte de discriminação e de conflitos de ordem racial, porque a pertença de uma grande maioria de colonos portugueses às camadas sociais inferiores , obrigava-os, ainda mais, de tirar o proveito dos seus “título racial”.

As autoridades portuguesas esmagaram a tentativa (início de 1948), dos jovens africanos de Luanda, que visavam seja a desenvolver as correntes literárias do conteúdo autóctone e nacionalista, como integrar as massas não assimiladas nas associações africanas legais.

No entanto, os contactos entre jovens angolanos e jovens escritores brasileiros conduziram a introdução clandestina em Angola dos livros e de revistas que envolveu uma parte da juventude no debate de grandes problemas de pós-guerra: A questão social, o fascismo e a democracia, o colonialismo e a auto-determinação dos povos, etc.

Constatando impedidas as vias de uma actividade legal e eficaz, instruída devidos os seus fracassos, uma parte da juventude lança-se na acção política clandestina em 1955, que tinha como objectivo, a independência nacional. Assim nasce o MPLA.

A independência do Ghana, o conhecimento que tinha a juventude de Luanda do manifesto da “Consciênce Africaine”, publicado em Julho de 1956, por um grupo de congoleses de Léopoldville, reforçaram nesta juventude, a convicção que a África entrava irreversívelmente na era da independência nacional.

A liquidação, quase completa da diferênça social entre o maior número de “assimilados-objectos” e as massas que cessavam de afluir do campo para muceques, tinha favorizado a implantação do MPLA na cidade de Luanda.

Todavia, as vagas de detenções operadas em Luanda apartir do mês de março de 1959, deveria meter o MPLA (ou o proletariado de Luanda e de outras cidades de Angola), na impossibilidade de dirigir realmente o movimento armado camponês.

Extrato de um artigo com o título “Angola: Quelle Indépendence”,  escrito em Francês no jornal da esquerda francesa, “La Révolution – Revue mensuel international”, edição Fevereiro 1964. Pág. 5-16.

Tradução de Muana Damba

 

 

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