Por Dr. Isaac Paxe
Wyza, seu traidor. Não era isso o combinado. Tomamos todos a consciência do desafio. Não embarcamos no enganador discurso do resgate.
Cada um de nós tinha o seu sentido de responsabilidade, assumimos sem qualquer cheque de banco a missão de circular nas partilhas os saberes das epistemologias do nosso sul. O cheque da questão era a nossa condição de muntu que tem lumbu e vive numa Mbanza.
E tu no teu feitiço de cantar irias então dar vida aos provérbios nossos – Yi salu kyaku kuna mbongi.
Os textos da filosofia ancestral circulariam nas tuas (nossas) canções. Era na nossa língua que eles faziam sentido. Assumiste e foste demonstrando nos show da bienal a promessa do divórcio com aqueles sons dos laboratórios dos sintetizadores eurocêntricos.
O palco é o tabernáculo dos nossos rituais. Essa era a tua parte. Nós os outros faríamos a nossa parte lá nos nossos palcos.
Sabes, da nossa conversa ” WYZA, NDAKA e GARY, Que merda é essa de consentirem que as nossas crianças nas aulas de educação musical ainda cantem as “mulheres do monte” ou então as canções da Xuxa? Isso é mesmo Assim? E vocês, “nada Kota”! Daí eu vos vendi aquele projecto sobre o cancioneiro do nosso sul e os sentidos a dar à nossa educação musical – ainda no sentido da missão de cada um na circulação e partilha dos nossos saberes.
E tu eras o entusiasmo em pessoa. As ideias já circulavam nos nossos cruzamentos inconfidentes.
Mas, tu mesmo que na canção “Bakongo” exaltaste a sabedoria nossa com o refrão “mukongo a luka kuyingi” não a usaste para ludibriar a senhora morte. Tu mesmo no “achamale”, “kinsiona” partilhaste as lutas da sobrevivência, não conseguiste sobreviver naquele Maria Pia que é para curar?!
Tu mesmo Wyza que na “wyky” lembraste as origens do nosso infortúnio “kuna ba dila o wyky, e kuna basisa e nkutu a ngangu” – não foste a tempo de recompor esse “nkutu” para que a nossa sabedoria ancestral nos fosse devolvida? Sei, tu rogaste aos mais velhos (esses mesmo que andam por ai a adiar o país ) ” nuwa singika e ngindu, ntangua mu luta yina”, mas nada.
Não te ouviram mano.
Esses assimilados não ouvem a linguagem do povo. Só as cores deles é que os fazem correr.
Eh, Wyza. Ntatidi kuna sulu, dya mpembe dina. Kansi ky mwene ko. Akwey wina e mpangi.
Ke dyambu ko.
Nzila a lufwa, nzila a yetu. Samuna mavimpi kuna kwa ayana bavita.
Wyzaééé…
EKUMA!!!
Fonte: facebook/Isaac Paxe
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