CRIK POESIA – Semana XV/ Poema 1
Yala Nkuwo
Da copa da Yala Nkuwo
O Ntoyo pelo mpungi soprou
Eh yaya, vejo grande tempestade
De mafumeira e lianzi do Malongo
A ngoma e ndungu do Soyo
Pelo kahombo e sanha do Tomboco
O incêndio pegou
Kalunga do Mar e do Fogo
Se revolveu e revoltou
os ventos e trovões
Soprou as chamas das bocas
Das sondas que lhe espetaram
No nkuwo para lhe extraírem
Petróleo e gás que mataram
O ar dos pulmões
E o peixe das bocas do Povo
As chamas estão a chegar
Nzambici
Teus ramos braços
Tuas folhas dedos
Dos Ntontila do Kulumbimbi
apontando Ngonde
Vão todos queimar e tombar
Eu mesmo daqui vou voar
não sei para onde.
E a tempestade chegou
Nkondi dentro do tronco Nkisi
Da Yala a seiva renovaram
Com sangue dos Ntontila do Mbiro
Suas raízes entrelaçaram
com as das Nsanda do Mayombe
E até da Mulemba Waxa Ngola
Copiosas chuvas convocaram
O nguzu do Nzadi Kongo reforçaram
Kalunga acalmaram
E do seu nkuwo extraíram
As sondas que tanto mataram.
E a tempestade passou
No Nkuwo da Árvore Sagrada
Bakulo se sentaram em reunião
Para julgamento do Ntoyo
Por ignorar que Kalunga e Yala
São espíritos da mesma criação
De Nzambi ya Mpungo Tulendo
Por duvidar do poder
E da força da tradição
Há milénios nunca quebrada
O Ntoyo nunca voltou
Foi o único que o vento levou.
A.K. (08/23)
Notas:
1. Mpungi: Trombeta
2. Mafumeira, Lianzi, Ngoma, Ndungu, Kahombo, Sanha: Nomes de plataformas petrolíferas
3. Nkuwo: Chão/Tapete Sagrado
4. Mbiro (ou ‘Ambiro’): Antigo ‘Nzo a Nkisi’ (cemitério) dos Ntontila na floresta
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