Kikongo de Mbanza Kongo é crioulo, não pode ser considerado como padrão.

A não padranização do Kikongo de Mbanza Kongo (Angola), sendo língua derivante ou Crioula do Kikongo-Padrão, primitivo dos três clãs “stricto sensu”.

Por SAMBA TOMBA  Justes Axel (*)

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“A força do Baobá (imbondeiro) é na suas raízes”, diz um provérbio africano. É para dizer que a vitalidade, a sobrevivência de um povo é na sua história, suas tradições. Mas não perca do visto que essa história pode ser vital para um povo, se ela é bem conhecer, bem compreender, senão é o obscurantismo total, fanatismo, regionalismo e pior extremismo cego, falsificação de história.

É o caso da história da língua Kikongo de Mbanza Kongo.

Eu escrevo este artigo, depois de ler o artigo de Panzo Abílio, que tem título de “o Kisikongo (kisansala) deveria ser o kikongo de referência”   (ver: http://wizi-kongo.com/aprender-kikongo/o-kikongo-de-referencia-e-o-de-mbanza-kongo-por-ser-capital-de-todos-akongos/ ), que fala para resumir, que deveria existir uma versão da referência do kikongo , e esta deve ser a versão de Kikongo de Mbanza Kongo cuja bíblia foi traduzida. E uma outra variante do kikongo de Angola deveria servir do Standard para outras variantes regionais do kikongo.

Bom, para começar falar dessa tese do provável Kikongo Standard e da referência de Mbanza Kongo, preciso dizer que essa tese não obedece às bases científicas histórica e linguística das línguas africanas Bantu. Vou me justificar e demostrar històricamente os fatos que eu falo nas linhas seguintes começando por uma breve história da fundação do Reino Kongo.

A fundação do Reino do Kongo remonta às primeiras conquistas do príncipe NIMI A LUKENI do pequeno reino de Bungu ou Vungu (situado á abordagem direita do Rio Kongo no atual Congo Brazzaville). O ano dessas conquistas é objeto de muitas discussões entre historiadores. Enquanto à luz das tradições orais Kongo e de outros historiadores, é cerca de 690 (1) de nossa era, que NIMI A LUKENI com seus companheiros, depois de conquistar as terras dos clãs Kongo (stricto Sensu) que são NZINGA, NSAKU, MPANZU (2) e dos Ambundus, vai fundar uma capital em nome de MONGO WA KAILA (Montanha da repartição). Mais tarde, sob sempre o reinado de LUKENI, a capital vai mudar o nome para ser NKUMBI A NGUDI (Umbigo da Mãe) (3) .

Esse nome do Reino Kongo, Lukeni deu isso em referência dos povos autóctones Kongo strictu sensu citados em cima.

A partir daí, todas etnias que foram lá como Nsundi, Ambundu( ndongo) incluindo línguas, costumes vão se juntar, misturar e se diluir com os três clãs Kongo stricto sensu para formar uma identidade única geral que se chama BaKongo ou Kongo com língua Única do Reino, o Kikongo; processo de unificação que vai ser continuado por sucessores do Lukeni a partir do século VIII de nossa era até ao apogeu do Kongo no século XIII (1300) para se transformar em Reino do Kongo Dia Ntotila (o Kongo unificado, federativo) com um novo nome da capital Mbanza Kongo( centro, grande aldeia dos povos Kongo).

De repente nós vemos que o termo kongo passou dum significado específico (os clãs Nzinga, Mpanzu, nsaku) ao significado genérico de todos povos com identidades diferentes (de atual norte de Angola até sul Oeste do Gabão passando pelas duas Repúblicas do Congo). E a língua inicial kikongo dos três clãs Kongo também foi misturada de muitas línguas de outros povos.

Nesse termo, vamos dizer no ponto de vista linguística que o kikongo como língua Nacional do poderoso Reino Kongo foi um crioulo africano inter Bantu derivado de variantes línguas dos povos Bantu e a escritura mamdombe do Kikongo naturalmente foi essa fotografia do kikongo crioulo do Mbanza Kongo.Sem esquecer que os três clãs Kongo stricto sensu perderam a versão padrão do kikongo, pois mesmo um clã foi mesmo do poder Central dos Mani Kongo que é o clã Nzinga e o clã Nsaku, quanto a ele foi na alta função do país que é o Mani kabunga.

E em 1482, com a chegada dos portugueses no Reino do Kongo Dia Ntotila, a língua Kikongo e mesmo os nomes tradicionais vão conhecer uma verdadeira mistura, ao ponto que os Mani Kongo vão começar a ser batizados e a pegar os nomes europeus (o exemplo do mani kongo Nzinga Nkuwu que se torna João I em 1491) e mesmo a organização tradicional Kongo vai passar à europeia: Mani Nsoyo se torna governador de Nsoyo. E a língua vai conhecer uma verdadeira transformação com a introdução das novas palavras de origem portuguesa: Dona, copo, Santo, Cristo, Portugal ou Europa, etc (Kikongo: Ndona, Copa, Santo, Klisto, Mputu).

Essas palavras continuam do jeito inconsciente até hoje nesse kikongo do Estado ou da mbula matadi. Muita gente acha que essas palavras são desde sempre kikongo, ora são de origem portuguesa.

Essa verdadeira mistura do Kikongo do Mbanza Kongo vai demorar durante 6 séculos da dominação portuguesa( XV-XX até 1975).

Isso quer dizer que o Kikongo de Angola já foi totalmente mudada, outras variantes específicas linguísticas das outras etnias que hoje tem o termo genérico do Kongo que viveram longe da capital salvador guardaram uma especificidade no inicio, mas não totalmente, pois elas mesmas vão conhecer o mesmo processo da mistura com a colonização francesa e belga( Congo Brazzaville, Gabão RdC).

De repente, nos vemos que o kikongo de Angola, do Congo Brazzaville, Gabão, e RdC não existe mais uma versão padrão inicial e nenhum entre eles pode pretender ser o padrão, e cada variante dele é standard segundo seu contexto social, político ou geopolítico. Ao exemplo de português brasileiro com o acordo ortográfico entre o Brasil e Portugal, faz que o Brasil tem sua versão padrão portuguesa: actual (Pt) atual (Br), presidente falando de dois sexos (pt) , presidente e presidenta (Br) .Nenhum português é errado.

Dizer que uma variante do kikongo de Angola deve ser o Standard para outras variantes regionais do kikongo é uma tentativa da falsificação de história para o benefício do regionalismo absolu e sem base científica histórica.

 

(*) Historiador e pesquisador congolês( Congo Brazzaville)

 

Referências:

1 – Anne Hilton em " Kingdom of Kongo", edição Press Clarendon, 1985.

2 -professor e doutor Joseph Zidi em aula do " Sentido e Simbolismos da palavra Kongo, 2011

3 – Randles em “O Reino do Kongo das origens até no século XIX” , edição Mouton hachette, 1969

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